Saint Louis, MISSOURI — A Igreja Metodista Unida, segunda maior denominação evangélica nos Estados Unidos, com 7 milhões de membros (12 milhões em todo o mundo), enfrenta um iminente racha.
No dia 26 de fevereiro, a cúpula da igreja votou pela confirmação do banimento de clérigos LGBTIs e de casamentos entre pessoas do mesmo sexo . Na última sexta, dia 15, um grupo de bispos pediu uma auditoria dos votos, acusando quatro pessoas de terem votado sem permissão.
Mesmo que as acusações se provem corretas, o resultado de 54 votos de diferença não seria alterado. No entanto, as irregularidades levantaram questões sobre o processo por trás de uma decisão tão importante, que causou um racha interno na denominação.
— Os indícios encontrados causaram sério impacto na confiança e na integridade do processo — afirmou ao New York Times o bispo Thomas J. Bickerton, que fez parte da comissão da conferência onde foi feita a eleição.
Em nota divulgada na sexta-feira, o Conselho de Bispos da igreja Metodista Unida dos EUA afirma: “Temos absoluto e firme desejo por transparência, pela verdade e em descobrir o que aconteceu durante a Conferência Geral”.
Desde a eleição, pastores e bispos nos EUA já estão falando sobre deixar a denominação e possivelmente criar uma nova aliança para igrejas abertas a todos os tipos de pastores.
— É hora de outro movimento — disse o reverendo Mike Slaughter, pastor emérito da Igreja de Ginghamsburg, em Ohio. — Nós nem sabemos o que é isso ainda, mas é algo novo.
A denominação vem lutando há anos com a forma de responder às mudanças sociais que atingiram outras congregações protestantes. Durante esse tempo, algumas igrejas metodistas adotaram individualmente práticas contraditórias — e, às vezes, concorrentes.
Em parte das igrejas há clérigos gays ou lésbicas, enquanto em outras pastores sobem ao púlpito para pregar que a homossexualidade é um pecado.
Questionado pelo Daily News sobre como sentiu-se ao ser informado sobre o resultado da votação, o reverendo Rob Lee disse estar“desanimado”.
Ele diz que reza para que a igreja descubra uma maneira de sair ilesa dessa situação. Para responder se pensa em sair da igreja, ele pausa, procurando as palavras certas.
— Essa é uma pergunta muito difícil — afirmou, sem descartar a possibilidade de criar uma “nova denominação”. — Não sei o que futuro nos reserva.
Já o reverendo Frank Schaefer é mais fatalista. Ao olhar para o que outras denominações experimentaram nos Estados Unidos, afirma que a perspectiva é “sombria”.
— Quando sou realista, percebo que nossa denominação provavelmente se desintegrará. Nós vamos provavelmente nos dividir. — disse Schaefer ao Washington Post. Ele é um dos ministros mais importantes envolvidos no debate e pai de três crianças LGBTIs.
Futuro do cristianismo
A decisão da cúpula da Igreja Metodista foi o golpe mais recente na luta pelo futuro da cristandade americana e na definição de qual visão da sexualidade humana será consagrada como cristã.
Membros conservadores abandonaram a Igreja Episcopal por sua adesão aos direitos gays. Os presbiterianos se dividiram, e muitos jovens evangélicos estão deixando suas igrejas por causa da falta de inclusão de pessoas LGBTI.
E essa juventude é uma parcela da população que os metodistas estão procurando resgatar: a comunidade é uma das populações religiosas mais velhas do país, com idade média de 57 anos.
Depois de três dias de intenso debate em uma conferência em Saint Louis (EUA), o voto da cúpula da igreja reafirmou sua política atual, que afirma que “a prática da homossexualidade é incompatível com o ensino cristão”.
A decisão foi uma rejeição ao movimento que membros e líderes progressistas estavam fazendo para abrir a igreja para lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros. A decisão foi aprovada em uma votação apertada: 53% a 47%.
O sufrágio também refletiu a influência crescente de metodistas de fora dos EUA. A decisão final pela opção conservadora foi apoiada por uma coalizão de membros de nações africanas, das Filipinas e dos evangélicos europeus e americanos.
Embora a adesão ao metodismo tenha diminuído constantemente nos Estados Unidos nos últimos 25 anos, a comunidade vem crescendo na África.
Cerca de 30% dos membros da igreja são oriundos de nações africanas, que normalmente têm visões cristãs conservadoras; em muitas delas, a homossexualidade é um crime.
Enquanto isso, os americanos estão se tornando cada vez menos cristãos, e a população não afiliada a nenhuma religião está crescendo.
À medida que as principais denominações que abraçam os direitos dos homossexuais declinam de poder político, as instituições cristãs conservadoras aumentam seu poder e e seus recursos financeiros. Entre os metodistas estão tanto políticos democratas, como Hillary Clinton to, quanto republicanos, como Jeff Sessions.