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Construção do movimento global contra a AIDS nos anos 90 é tema de segunda aula ministrada por Richard Parker na ABIA.


O diretor-presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA), Richard Parker, realizou a segunda aula do curso “A epidemia de AIDS e a invenção da Saúde Global”, que faz parte de uma parceria do Instituto em Estudos de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IESC/UFRJ) com a instituição. A atividade ocorreu na sede da ABIA, no Centro (RJ) e contou com a presença de estudantes, ativistas e membros da ABIA.

Dessa vez o tema proposto para aula foi “Construindo um Movimento Global contra AIDS nos Anos 1990”.  De acordo com Parker, o objetivo era entender as facilidades e dificuldades encontradas pelo movimento contra a epidemia de AIDS naquele período. O pesquisador demonstrou aos presentes as maneiras pelas quais a resposta inicial à epidemia na década de 1980 foi transformada em um movimento global muito mais amplo pelo menos naquele momento.

A expansão da resposta da AIDS da OMS e de outras agências da ONU, como o PNUD e o UNFPA, à criação do UNAIDS e o papel crescente do Banco Mundial – durante este processo – foram outros pontos abordados por Parker.

A resposta da sociedade civil e o crescimento do ativismo transnacional relacionado à epidemia, a importância das primeiras opções eficazes de tratamento antirretroviral a partir de 1996, e o crescimento do movimento global de acesso ao tratamento já no final dos anos 90 também foram assuntos do encontro.  O antropólogo explicou para os presentes que durante o período tudo estava em expansão o que facilitou de certa maneira os pensares sobre a arte de cuidar e tratar o HIV. “ De 90 a 96 temos novos atores e ideias sim, mas nenhum desses conceitos era inteiramente novo. Na verdade, eles foram remodelados e utilizados de uma maneira muito mais política ”, completou Parker.

A necessidade de repensar e remodelar a maneira de como se abordar sexualidade e direitos também fez parte da aula. “ Naquele período fizemos uma série de projetos no campo da sexualidade para mostrar que os mesmos faziam parte de constantes sociais e como nós iriamos lidar com aquilo? Isso foi importante porque até então não existia uma resposta biomédica completa só as mudanças de práticas sexuais e comportamentais afim de diminuir a infecção do HIV. Então os projetos deviam pautar isso de como lidar com essas mudanças de comportamento”, discorreu o antropólogo. Essas ações de ciência social e ativismo traduziram maneiras que possibilitaram algumas mudanças nesse período.

UNAIDS

Comentando um pouco mais detalhadamente sobre a criação e trabalho da UNAIDS na década de 90, Parker dividiu com os alunos a importância da instituição que segundo ele “ virou uma guardadora da chama dos pensamentos mais sociais dentro do combate à epidemia no seu processo de surgimento. ” O trabalho ruim da OMS (Organização Mundial da Saúde) foi o estopim para este processo. Já que ativistas e a própria classe biomédica viam a necessidade de uma nova modalidade de coordenação que fosse capaz de conter as brigas por capital, que começavam a crescer.

Para Parker, “neste período a UNAIDS exercia um papel discreto mais bem importante de tentar representar os interesses positivos da sociedade civil e ativistas tornando-se assim um importante aliado ao menos naquele período. ”

Ainda de acordo com as lembranças de Richard neste processo de criação – meados dos anos 90 – a prevenção primária começou a ser bem vista por algumas pessoas do meio biomédico e ativistas, já que a mesma possuía um custo mais baixo.

Já caminhando para o final da aula Richard fez um pequeno panorama das conferências dedicadas a temática do HIV/AIDS na década e falou um pouco mais sobre a mobilização internacional para o acesso ao tratamento, que a partir de 1996 vê uma reinvenção transnacional do ativismo cultural e da solidariedade.

Após abrir a aula para um pequeno debate ficou a cargo do vice-presidente da ABIA, Veriano Terto Jr. provocar os presentes sobre que movimento global de luta contra a AIDS é este? Quem é o global? Para Terto Jr. é necessário que problematizemos esse discurso de construção global do combate à epidemia, “já que podemos estar falando de um problema Anglo-Saxônico, pois todas as respostas que adotamos sempre são dadas e pensadas em inglês. ”

Já a coordenadora de comunicação da ABIA, Angélica Basthi, solicitou que Richard explicasse um pouco mais sobre a importância do Global Watch na década de 90. Sobre este ponto o antropólogo informou que a instituição foi extremamente importante na realização de intervenções estruturais dentro da construção de políticas sociais no enfrentamento.

Coube a Salvador Corrêa, coordenador da ABIA, realizar o questionamento sobre em que medida o Brasil teve o papel de impulsionar essa mobilização ao combate à epidemia. Para Parker, “ O Brasil foi entre uns quatro e cinco países muito importante no valor de mobilização. Todos reconheciam que apesar de o Brasil ter uma epidemia ainda pequena em relação aos demais conseguiu fazer coisas com muita rapidez e isso foi uma inspiração. O clássico da declaração dessa importância do Brasil na resposta a epidemia é o artigo da Tina Rosenberg em 2001, do New York Times, “Look at Brasil”, que começa basicamente dizendo que depois que o Brasil fez ninguém pode dizer que um país pobre não pode fazer, que outras desculpas devem ser dadas a partir daquele momento. ”

A próxima aula será no dia 22/10 na sede da ABIA. Todas as aulas estão sendo gravadas pelo Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens, Vagner de Almeida, e em breve estarão disponíveis no site.

Texto: Jéssica Marinho

Fotos: Jéssica Marinho

 

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