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“Com 8 anos eu descobri que minha mãe era soropositiva”, conta jovem universitário e militante envolvido com importantes causas sociais como do HIV/AIDS, LGBT’s, Negros e outros


Uma vida resumida em altos e baixos. Descobertas e surpresas. Duas mães. Envolvimento em movimentos secundaristas, universitários e de assistência social. Ao longo de seus 22 anos, Lucas Pinheiro sempre se viu protagonista em alguma frente. Mas tudo bem para ele, responsabilidades nunca o assustaram, importantes decisões também não. Criado pela irmã de sua mãe biológica, o estudante soube somente aos oito anos de idade que sua mãe de criação na verdade era sua tia. Trauma? Não para ele que afirmou sempre ter tido “um bom contato com ela, inclusive a apresentando como minha mãe em alguns lugares”.

Mas também foi com essa idade que ele descobriu que sua progenitora era soropositiva. “Com meus 8 anos também eu descobri que minha mãe era soropositiva, não pela minha mãe de criação nem pelas minhas tias, porque elas tinham medo que eu a tratasse de maneira diferenciada, que eu achasse o que muita das vezes o pessoal acha, tentavam encobrir algumas palavras”. Foi a partir daí, entre outras quesitos, que ele despertou para estudar a saúde mental, ciências, a educação, o HIV e a AIDS até pavimentar um caminho que lhe deixasse hoje a poucos meses de se formar em Serviço Social na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UNIRIO). Na entrevista abaixo, o jovem estudante também aborda outros temas “caros” para si e a sociedade como as cotas raciais em universidades, o desmonte da UERJ, Sexualidade, Aplicativos, epidemia do HIV/AIDS e a infecção cada vez maior de jovens, entre outros assuntos. Confira:

Serviço Social

“Eu escolhi o curso porque durante minha adolescência eu fazia trabalho de voluntariado num lugar que fazia trabalho de assistência social e a partir daquela prática cotidiana, da visita aos leitos das crianças com oncologia no Hospital dos Servidores, no INCA, no Hospital Infantil de Caxias (Ismélia da Silveira) e no HEMORIO, a partir também do contato para com assistentes sociais eu escolhi o curso pra entender além da prática que eu fazia, o que ele tinha na teoria e o que ele poderia me embasar no mundo acadêmico e também no meu trabalho. Estou no sétimo período”.

Desafios de Universidade Pública

“Tem, primeiro pelo curso ser novo e ser oriundo do REUNE que foi o programa de extensão das universidades, sejam elas públicas estaduais ou federais e pelo baixo número de professores apresentados desde o início da formação. Conseguimos a abertura do bandejão, começaram a construir o novo prédio do CCHS (Centro de Ciências Humanas e Sociais), mas isso tudo com muita luta e pressão do movimento estudantil. Logicamente, entendendo ali o conjunto dos servidores como um todo, sejam eles administrativos ou não, nessa luta coletiva dentro da área pública. Por mais que venham greves e você tenha algumas condições ali que são mais trabalhosas, são mais cansativas e dá um desgaste maior, ela te dá a possibilidade de um alcance dentro da área pública de forma muito maior. Você aprende ali na prática com a luz da teoria como fazer o processo todo.”

Movimento Estudantil

“Posso dizer que na adolescência eu já me organizava sem saber que eu me organizava. Era muito hiperativo em mim o trabalho coletivo e para com a coletividade. Mas eu sempre fui muito consciente e crítico dentro das condições onde eu me colocava, vamos assim dizer. Muitas das vezes você está ali como, não como coadjuvante, mas primeiro você precisa entender como funciona o processo pra você intervir. Então, muitas das vezes, eu pegava todo o funcionamento da escola pra poder organizar meus amigos pra gente ver melhorias. E a partir dali a gente conseguiu uma boa autonomia enquanto adolescentes do ensino médio, conseguimos fazer festas, rifas, pagamos nossa própria fotografia da formatura. Então nós conseguimos ali tocar uma organização coletiva que já tangia ao movimento estudantil. Um bom exemplo: no terceiro ano do ensino médio nenhum professor queria nos orientar numa atividade que tinha na escola chamada De Portas Abertas, muito próxima da extensão. Você produzia materiais durante o ano e se abria a escola e expunha a comunidade para eles terem acesso ao que a escola estava produzindo, muitos alunos ali eram moradores daquela comunidade – no caso o bairro era Vila Kosmos, perto do metrô de Vicente de Carvalho – e os que eram de outras, mas estudavam ali iam ver a exposição que tinham. Foi muito maneiro porque a gente misturava Física com Artes, era de fato interdisciplinar também assim como a ABIA. Então lá fizemos uma exposição do século 20 Foi muito maneiro porque a gente misturava Física com Artes, era de fato interdisciplinar também assim como a ABIA. Então lá fizemos uma exposição do século 20 com seus diversos recortes, sejam eles econômico, político, histórico, filosófico, matemático que foi muito maneiro”.

Cotas Raciais

“Quando eu entrei na UNIRIO eu entrei pelo próprio Enem. Anteriormente, se eu não me engano em 2010 ou 2012, a UNIRIO tinha ainda seu próprio Enem, mas como o projeto REUNE ele vem de 2012 a UNIRIO passou por esse processo de mudança de abrir mão do seu próprio vestibular pra poder implementar o Enem. Ela foi a última universidade a adotar o sistema de cotas e adotou a menor porcentagem, mas eu passei pela própria concorrência. Eu não me enquadro ali no perfil socioeconômico pra cotas. Porque eu estudei em escola particular durante o ensino médio e não era bolsista, era escola de freiras.

Sim (me valeria do uso de cotas se eu pudesse) pelo seguinte motivo: entendendo as cotas como uma política social de reparo de uma dívida histórica. Porque se formos entender as condições objetivas eu sou um ponto fora da curva dentro da minha família e minha mãe é um outro ponto fora da curva. Tenho duas irmãs que uma não passou do ensino fundamental e a outra do ensino médio, tinha minha mãe biológica que não passou nem da 1ª série, minha tia não passou da 4ª série, meu tio parou no ensino médio depois que entrou na Aeronáutica e na Marinha. Então se você for pegar as condições objetivas ali, dentro de famílias com a construção não-brancas e de outras formações socioeconômicas, os pais são faxineiros ou trabalhadores servidores no nível municipal ou estadual, então as condições objetivas são diferentes. Por mais que as políticas sociais foram colocadas e vem se delimitando ao longo dos anos em políticas universais, mesmo tendo briga, para que sejam focalizadas nossas lutas universais de amplo acesso, as políticas setoriais para pretos e pretas é de maneira a garantir a nossa subsistência e nossas condições de concorrência”.

Crise nas Universidades

“As condições objetivas na qual a UERJ passa e as condições que os estudantes nos apresentam e que os servidores também, é que esse desmonte da UERJ vem desde a década de 90 onde o neoliberalismo se implementa de vez no estado brasileiro. E pela pós da UERJ ser extremamente qualitativa e rica, podemos assim dizer, os ataques feitos pelo Governo Federal com a chancela das empresas é de buscar a privatização da UERJ. E nisso nós temos um ataque muito brutal a população, seja pelo HUPE (Hospital Universitário Pedro Ernesto), seja pela própria graduação que ela foi largada ao léu pra garantir só a pós graduação que dá mais dinheiro. Então esses ataques a UERJ (acontece) de maneira a se provar que ela não é capaz de se gerir sozinha. É uma forma de começar a se implementar a privatização das universidades públicas, de vendê-las para o capital privado. A estrutura vai se manter pública nas suas condições materiais, mais concretas, mas a forma de gerências dessas condições vai ser privada. Não vai ser mais da população forjando conhecimento para a própria população, que a própria população tem acesso”.

Família

“Ah então, minha mãe biológica é irmã da minha mãe de criação e aí a minha mãe biológica já tinha mais duas filhas, eu sou o caçula. Quando eu nasci meu pai faleceu poucos meses (depois). Com quatro meses ele faleceu num acidente de moto, ela (a mãe) teve que prosseguir sozinha. Dentro desse processo ela teve alguns momentos relapsos o qual a minha avó me tirou dela e me deu a guarda pra minha mãe de criação, a irmã mais velha dela e nesse processo eu saí de uma esfera de vida pra outra. Então eu cresci com um irmão em vez de duas irmãs, eu tive sempre acesso as melhores escolas porque ela (a mãe de criação) sempre foi funcionária federal e o companheiro dela funcionário público federal. Então dentro desse processo eu sempre tive muito acesso a condições muito boas. Assim, não necessariamente, me cobriu outros lados. A parte afetiva foi uma construção dada mais pelo amadurecimento, mas até mesmo garantir acesso a universidade pública foi me dado desde cedo. Foi um processo construtivo do que é o Lucas hoje nessa forma acadêmica e/ou profissional.

Eu tive muito contato com minha mãe biológica, principalmente, nas férias quando íamos pra Região dos Lagos pra poder passar as férias e aí a minha mãe de criação abria a casa e ia minha avó, minha mãe biológica, minha tia, minha prima, minhas irmãs etc, pra gente poder ter o convívio ali e não perder o vínculo. Tivemos um bom contato e descobri que minha mãe biológica não era minha mãe biológica com oito anos de idade. Hoje eu estou com meus 22, então assim eu conheci ela durante 14 anos. Esse ano ela faleceu, mas sobrou ainda a minha madrinha e minha mãe de criação. Tivemos um bom laço por mais que eu não conseguisse no cotidiano chamar ela de mãe. Mas eu apresentava ela como minha mãe e ela que me possibilitou o contato com  esse mundo novo. Com meus oito anos também eu descobri que minha mãe era soropositiva, não pela minha mãe de criação nem pelas minhas tias, porque elas tinham medo que eu a tratasse de maneira diferenciada, que eu achasse o que muita das vezes o pessoal acha, tentavam encobrir algumas palavras. Então desde esse processo só vieram me contar que ela era soropositiva com 16 anos. E aí a média que nós fizemos por habilidade foi que ela infectou-se de três a quatro anos depois de me ter. Porque assim que foi diagnosticado buscaram fazer os exames em mim e nas minhas irmãs pra ver se não tinha nenhuma possibilidade de transmissão vertical e não foi apresentado. Então até mesmo pra eu entender sobre quais pressões ela passou, o que é que ela passava, que mundo era aquele que eu não entendia, eu fui buscar estudar Saúde Mental, fui buscar estudar Educação, fui buscar estudar o HIV/AIDS e suas infecções sexualmente transmissíveis. Um para entendê-la e dois para trabalhar com a prevenção.

Então por mais que eu não entendesse tudo que estava ali, eu entendia que ela era minha mãe, que ela tinha uma certa condição e que ela naquela sorologia, que eu entendia que rodava no sangue dela, eu deveria ter o mínimo de cuidado. Porque quando você cresce você ouve “todo viado é bichado”, então quando você começa a ver o processo da opressão batendo”, aí as opressões e estigmas ficam ali martelando. Então eu fui buscar uma forma de prevenção que, inicialmente, foi para não repetir a mesma história e não ser oprimido e julgado pela mesma repetição, mas em segunda instância com o amadurecimento e não mais com o olhar de uma criança, garantir minha saúde e garantir uma vida sexualmente ativa, com prazer e sem muitos medos. E garantir uma vida sexual tranquila”.

Chegada na ABIA

“Então, eu já estudava antes o tema pela escola e tudo mais e aí eu tinha o contato de alguns amigos, fiz amizade com o Cris e ele queria me apresentar os espaços em que ele desenvolvia projetos, debatíamos bastante sobre os projetos e nisso ele me apresentou a ABIA (Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS). Eu já conhecia o Herbert de Sousa do IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) porque minha tia trabalhou durante 15 anos lá, Ana Maria, então eu já tinha contato do IBASE. Eu conhecia um pouco da metodologia aplicada do Betinho. E aí eu conheci a ABIA com esse outro espectro do trabalho dele sobre o HIV e a AIDS e entender também o desenvolvimento desse trabalho que se sustenta durante tantos anos”.

Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens

“O Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens é uma iniciativa posso dizer que visionária dada a conjuntura que se apresentava acerca de seis anos atrás, a forma que o conservadorismo já estava se apresentando porque da década de 90 pra cá a forma de se falar de prevenção sobre HIV e AIDS, falar de sexualidade foi uma condição dada pelo neoliberalismo. Você tem uma liberdade grande, você pode se sentir a butterfly, você vai brilhar no palco e vai lacrar, mas você pode continuar no escuro escondidinho. Não pode aparecer muito senão a gente vai reprimir. Então quer dizer, ele te dá uma base econômica e onde você possa ficar lacrando e nas condições objetivas você tem que ficar se escondendo. Se você tem dinheiro você banca uma bolha social, se você não tem você fica se escondendo. E aí dada as condições objetivas ali você pode estar lacrando e ter contato sim com uma IST, pode sim ter contato com infecções através de trocas de instrumento pra uso de drogas, então você tem bem delimitado, tem dois espectros de maneira muito nítida”.

Sexualidade

“Ah eu tenho noção nítida assim de quem sou eu desde os meus 4 anos de idade. Eu comecei a dar uns pegas lá em Salvador, porque sou rata mesmo sendo nova (risos). Já dava pega nos menininhos desde novo, dei aos 8 anos com o parceiro que tinha 13. Primeira penetração. Porque assim, eu divido a virgindade em vários espectros: ao começar a virgindade por perder a sua infantilidade e você entender em outros níveis ali o que é a leitura corporal do outro, que é muito diferente de si mesmo, a virgindade de você ter um contato sexual seja ele com penetração ou não e aí via masturbação e aí a comunidade LGBT também foi moldando: a primeira vez que eu dei, a primeira vez que eu meti. São esferas. (O primeiro parceiro sexual) ele não era homo nem bi, ele era hetero.

Como eu não via (a sexualidade) como algo berrante, um monstro eu sabia que até uma certa idade eu não poderia (me) expor nitidamente (então) enquanto eu conseguir desenvolver sem conseguir deixar antes do tempo que seja nítido, eu passo uma vantagem. Fui levando. Mas a sociabilidade – e também os hormônios – ela vai colocando um processo de hipersexualização que aquela criança muitas das vezes reproduz aquele processo sem sentir a hipersexualização. Sem sentir de fato o processo de atração sexual, afetivo-sexual. O que isso quer dizer? Muitas das vezes elas reproduzem símbolos que vão dar pra ela um status quo perante aquele grupo no qual ela está inserida e em outros casos, de fato, ela não tem acesso aquilo ali, mas ela vai externalizar. Então tem esses aspectos que se apresentam numa fase. Então prosseguindo, em casa a família já via só que ela fingia que não via. Não somente vista grossa, mas ilusório mesmo pelo seguinte motivo: tudo que você tem nítida consciência e que você não intervém, você está sendo omisso. Você pode intervir pra melhorar ou pra desqualificar. Eles preferiram pagar pela omissão, porque assim eles poderiam muito bem não concordar.

Até (que) aos 16 anos ela (a mãe) começou a questionar. Eu sempre deixei tudo muito nítido, então pra mim não tinha muito o que virar e falar porque todo mundo conseguia ver. Na verdade todo mundo falava pra ela, só que ela fazia o processo de omissa. E eu vice-versa. Mas minha mãe não fez um escarcel não. Ela mandava eu me prevenir, para com o exemplo da minha mãe biológica, e que eu tomasse cuidado. té o momento em que meu irmão me agrediu física e verbalmente e eu saí de casa. Já tinha de 18 anos de idade e pude optar pela mobilidade de ficar em uma só casa e não em duas. Primeiro fiquei um ano na minha madrinha e depois me mudei de fato”.

Ser Gay hoje em dia e Vulnerabilidades

“Olha eu discordo que as novas gerações estão mais abertas a novos contatos sexuais. Fica muito nítido nessas novas gerações que elas tem um contato com um nicho econômico voltado pra erotização e sexualidade muito mais ampla do que antigamente, porque antigamente (só tinha) os vídeos cassetes e as revistas pornográficas e hoje tem internet, tem o aplicativo Tinder, tem pessoas que ficam nos aplicativos que vê tanta rola, tanta xota, tanto peito, mas não tem o ao vivo e não tem foda. É um outro nicho. Mas quando você para pra olhar quem estão nesses aplicativos, nessas salas de bate papo, de que forma que é construído isso em sua maioria ali quem acessa aquele serviço pra obter o produto, você começa a ver a maioria: tem uns que vão por prazer? Tem. Mas você vê tanta propaganda do pessoal se vendendo que chega um ponto que você começa a duvidar se o processo todo ali é por prazer ou se é dependência.

O que eu vejo na sexualidade da juventude hoje (é que) eles se colocam num espectro de liberdade que eles não tem. O pessoal fala em poliamor pra poder correr de um pra outro e ter menos dependência afetiva o máximo possível. Ou só pra garantir o máximo de atividade sexual sem ter o mínimo de dependência afetiva possível. Ou somente pra suprir pro outro a necessidade sexual e afetiva e essa pessoa se colocar num processo de objetificação. A juventude está cada vez mais conectada nos aplicativos e desconectada dos corpos”.

Infecção de HIV entre Jovens

“Pois bem, o que acontece. A juventude pelo que ela apresenta, ela fica num processo que não é de estagnação, mas ela fica num processo imperativo de ímpeto. O que isso significa? A vida ela é muito mais corrida, se aumentou a intensificação do trabalho e a partir do trabalho você vai moldando ali as condições objetivas da vida das pessoas. Então você passa a ter menos tempo pra passar em casa, menos tempo pra se alimentar, menos tempo de lazer. O aplicativo ele garante o ímpeto da ação sexual, mas a maioria desses jovens quando vão ter ação sexual eles não conseguem fazer as mediações das formas de prazer. Elas buscam a forma de prazer e se jogam. Nesse processo que elas se jogam muitas vezes de alguma forma de prevenção elas se entregam ao prazer no ímpeto. Então você consegue ver de maneira nítida que não é só o acesso a prevenção que vai garantir a qualidade dessa política social que é o acesso a prevenção, saúde básica, PEP e a PrEP. Muitas das vezes só com o amadurecimento sexual das relações e essas pessoas não tem porque a vida é muito corrida.

Mas o amadurecimento sexual começa com a masturbação. É quando você começa a tocar seu próprio corpo, você entende seu corpo e começa a ver o que lhe agrada e o que não lhe agrada nesse toque primário que é em você mesmo. Então você vai chupar seu pênis, o cu, você vai entendendo o seu próprio corpo. Pra você entender o que você gosta nele e o que você não gosta que seja feito com ele. Porque se você não consegue entender seu próprio corpo, você não consegue entender o corpo do outro durante uma relação. E aí não há essa interlocução. Então assim, esse amadurecimento sexual ele não é dado na relação sexual. Só a ação sexual pode te amadurecer em nada. Pode te dar orgasmo, te fazer gozar, mas amadurecer em nada”.

Jovem, negro e homossexual

“Comparado há alguns anos atrás, hoje nós temos maior acesso à não somente consumo na sociedade, mas também um avanço em direitos sociais, civis e políticos muito grandes comparados às outras épocas históricas no qual nos era negado até o básico, que muitas vezes era água e comida de maneira a querer nos matar, mas o capitalismo foi vendo que há uma necessidade de incorporar essa massa e que elas podem ser exploradas tal qual os heteros. Ou bissexuais. Nós só temos um recortezinho ali que a depender das conjugações feitas pra se intensificar a exploração ou não, nós podemos estar escolhidos ou não. Mas hoje ser preto continua difícil. Continua ser extremamente aviltante a vida de uma pessoa preta, independente por onde ela trilhe seus caminhos, vai ser aviltante porque há mais ou menos uns 200 anos nós ainda éramos escravizados. Porque assim, a sociedade que nós vivemos não é feita pra todo mundo. Então o racismo já é estrutural, sentimos ele cotidianamente na vida. A homofobia também, nós vamos sentindo pelo seguinte aspecto: os machos héteros por saberem que eles serão os primeiros a serem requisitados pelo mundo do trabalho, por serem os primeiros que a sociedade vai garantir a subsistência, porque se chegar num grau extremo eles vão ter que produzir e (re)produzir pra ter força de trabalho”.

Futuro

“Então, agora eu comecei o TCC já estruturado pra extrair dele alguns artigos, possivelmente também estruturar projeto de mestrado pra quando tiver próximo já ir disputando pra poder garantir uma entrada. Busco também junto ao mestrado como atuação profissional ir pra área pública ou ir pra assistência de alta complexidade ou ir pra área da saúde, garantir na área de educação. Mas nesse processo, não descolar a minha atuação profissional da minha profissão ou a minha profissão da atuação profissional. E eu espero pós-doutorado e em alguns anos ir pra área acadêmica, continuar meu trabalho na área acadêmica pra poder reformular o aparelho que eu vou formar ao longo da minha atuação de assessoria e movimentos sociais e a sociedade civil organizada. Já estou moldando um instrumento pra poder ser utilizado futuramente ou não, mas provavelmente vai ser utilizado e pra poder ir aperfeiçoando não somente a informação, como também a pesquisa de intervenção, garantir um processo de produção de conhecimento popular já desde o início”.

Texto: Jean Pierry e Jéssica Marinho

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