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CEDAPS realiza o Fala Comunidade 2018 com foco no HIV/AIDS, IST’s e Hepatites Virais com presença do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens


Organizado pelo CEDAPS (Centro de Promoção da Saúde) o “Seminário Nacional de Comunidades e Movimentos Populares na Prevenção das IST, HIV/AIDS e Hepatites Virais: desafios atuais da prevenção com e entre jovens” foi realizado na última semana, entre os dias 6 e 8 de novembro, no Centro (RJ). Com foco no fortalecimento de grupos, organizações e comunidades populares por meio de metodologias participativas, o evento contou com uma presença massiva de jovens e adolescentes de diversas regiões do estado – Zona Norte, Zona Oeste, Zona Sul e Baixada Fluminense também – no primeiro dia de atividades.

A primeira ação realizada pelos jovens – presentes não somente como público, mas também como apresentadores e assistentes de apoio – constou de uma dinâmica musical para que os convidados pudessem interagir uns com os outros. Em seguida, iniciou-se um interessante quiz com perguntas, afirmações e/ou negativas acerca de questões pertinentes à vivência da juventude: sexo, sexualidade, gênero, Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s), HIV e AIDS etc.

Com o uso de um aparelho digital cada questão tinha três opções. Após a mensuração de cada resultado, os votos eram exibidos no telão e as porcentagens eram discutidas entre os próprios jovens, entre prós e contras de cada questão. “Esse momento é muito importante porque estamos aqui para aprender e depois compartilharmos entre pares nos nossos ambientes. Então não saiam daqui com dúvidas ou tenham medo de falarem o que pensam”, disse o líder juvenil Patrick Silva, evocando nos demais o protagonismo juvenil e a horizontalidade que foi o tom do evento. Jean Pierry Oliveira e Jéssica Oliveira, assistentes do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) estiveram presentes no evento.

Após as 15 perguntas, uma segunda etapa exigiu que o adolescentes – divididos entre representantes do RAP da Saúde, Rede de Comunidades Saudáveis e Jovens Construtores – elegessem dois integrantes de cada grupo para dialogar com representantes de outras instâncias da sociedade civil, nos dias 7 e 8/11 sobre suas reinvindicações, subsídios e propostas de ações como políticas públicas juvenis, especialmente da periférica, nos eixos de Direitos Humanos, Saúde, Prevenção, Direitos Sexuais e Reprodutivos entre outros.

Rio das Prevenções

Já o segundo dia de atividades do Fala Comunidade 2018 teve a participação de Juan Carlos Raxach, assessor de projetos da ABIA e um dos coordenadores do Projeto Diversidade, na abertura. Grato pela oportunidade de participar da iniciativa, o médico iniciou sua fala compartilhando que desde 1983, ano de seu diagnóstico para o HIV, que voltou-se para o combate à infecção e introjetou a mesma como meta profissional e pessoal através de uma de suas principais vertentes: a prevenção.

Através de uma dinâmica estratégica ilustrativa, intitulada Rio das Prevenções, Raxach afirmou que “o conceito de Sexo Seguro foi inventado pelas comunidades populares, pelos grupos mais atingidos pela infecção. Não foi pela comunidade médica. E isso é muito importante”, frisou. Dentro desse curso do Rio das Prevenções vieram outros conceitos importantes como a Redução de danos (via práticas sexuais menos vulnerabilizadas como sexo sem penetração, o surgimento da camisinha masculina/externa e o Sexo mais Seguro), nos anos 80.A partir da próxima década, o Rio da Prevenção em sua apresentação evidenciou outras ferramentas no combate ao HIV e a AIDS, tal como a camisinha feminina (1993) e a Profilaxia pós-exposição (PEP), em 1996. “Mas é muito difícil ainda hoje você ter acesso a ela. Durante muito tempo ela foi direcionada somente para profissionais da saúde. Mas está disponível em inúmeras unidades pelos SUS”, contou ele.

Em 2000, a prevenção da transmissão vertical tornou-se outro aliado na epidemia com a redução e o combate de casos em que a criança se infecta através do parto ou amamentação. “Há quatro anos Cuba – meu país de origem – foi e é o primeiro país do mundo a erradicar esse tipo de contágio”, revelou. Menos usual, mas importante e com eficácia (especialmente em países da África), a circuncisão masculina (2007) também faz parte do curso desse Rio, assim como o Tratamento como Prevenção (2011). “É uma medida bem trabalhada como estratégia”, reconhece Raxach sobre o Trat. Como Prevenção.

Próximo ao final do curso do Rio das Prevenções chegamos na PrEP (2012), que para o especialista “deveria ser ampliada e disponibilizada para todas as pessoas independente do que são. Nossas experiências devem ser transformadas em evidências”, observou. Tudo isso credencia o escopo da Prevenção Combinada, tido como um grande ponto chave em questões de políticas públicas para saúde (HIV/AIDS), mas que ainda esbarra em questões morais (vide a implementação da PrEP). “Na medida que existem métodos altamente eficazes, onde se toma um remédio e tudo acontece, o profissional de saúde determina quem pode e não pode tomar. Mas com isso ele esquece de outros quesitos dentro disso, como a compreensão das subjetividades dessas populações, impondo uma ótica normativa e prescritiva, sem a perspectiva dos Direitos Humanos”, refutou ele. “Devemos retomar o lugar da negociação e de decidir o que é bom ou não para mim”, finalizou.

Saúde da População Negra e AIDS

Esse foi o título da apresentação de Fernanda Lopes, uma das convidadas presentes para falar no evento. Com lugar de fala de sobra para debater o assunto, suas apreensões no evento trouxeram apontamentos que evidenciam como o racismo estrutura a vulnerabilização de corpos negros num processo encadeado de saúde-atendimento-cuidados-adoecimento-morte. Cronologicamente dividiu a história em:

– 1980: 1º caso notificado de AIDS no Brasil, em São Paulo.

– 1981: paciente zero nos EUA

– 1983: 1º caso notificado em mulheres  -SP

– Meados da década de 80 – Geledés AIDS e população negra

 

“O primeiro caso no Brasil foi diagnosticado numa mulher negra, chamada Nair. E ela abriu precedentes para nós no Brasil. Lá na década de 80 ela foi diagnosticada e fez um acionamento jurídico para ter direito ao tratamento, que era prioritariamente destinado para homens que faziam sexo com homens e profissionais do sexo. Então se hoje temos acesso universal, sem judicialização, é porque no passado já teve quem brigasse por isso como Nair”, reconhece Lopes. “E por isso quando falamos de saúde da população negra evocamos Nair”, completou.

Outro ponto ressaltado foi a participação das comunidades e religiões afro-brasileiras no exercício, sobretudo, do acolhimento e cuidado de populações estigmatizadas no contexto da AIDS, enfrentamento do estigma e racismo com destaque para duas incidências históricas na cidade: o Projeto Odoya da Arca (1991) – Instituto Superior de Estudos da Religião (ISER) e o I Seminário Nacional de Mulheres Negras e AIDS (1992), da Criola. “Se não discutirmos racismo, sexismo, homo, lesbo, bi, transfobia e outras formas de opressão nós não falaremos de vulnerabilidade. Somos diferentes na vivência, mas as dinâmicas são as mesmas. Imagina como é viver com AIDS sendo atravessado por tudo isso”, indagou.

“O processo de sermos maioria nesse sentido, de saúde, é uma destituição. Algo que nos faz crer que é e deve ser assim mesmo. Estamos nas ruas em maioria, mas não em garantia de direitos”, afirmou Lopes sobre AIDS, saúde e comunidades contemporizando sua fala com o Projeto Trupe da Saúde (1996-1999), realizado em Vigário Geral, com foco na raça/cor e coordenado por José Marmo.

Texto: Jean Pierry Oliveira

Fotos: Jéssica Marinho

 

 

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