Foi realizado na tarde da última terça feira (21/11), às 13h30, no auditório da Policlínica Antônio Ribeiro Netto (PARN), do PAM 13 de Maio, no Centro (RJ), a Mostra de Filmes Tutti Frutti. Organizado desde 2009 pelo setor de Serviço Social da unidade, o nome do evento e sua concepção, na verdade, nasceu na Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) a partir de uma necessidade encontrada por um dos postos de saúde que mantinham contato com a ABIA de fazer uma mostra de filmes durante uma semana no ambulatório. O nome do evento foi escolhido por comunicar de maneira bem-humorada a valorização da diversidade sexual. A proposta é debater filmes que discutam não apenas a temática do HIV, mas também assuntos relativos com a temática LGBT. Dessa forma, o evento adquire uma identidade mais próxima às realidades dos usuários HSH (Homens que fazem sexo com outros Homens) e vai além do foco na doença, trazendo para dentro dos serviços de saúde da rede SUS (Sistema Único de Saúde)a discussão de aspectos relativos à cultura e ao cotidiano dos indivíduos homossexuais. “Quando anunciamos na Farmácia e em outros espaços daqui sobre a Mostra e nosso tema perguntaram porque não falávamos sobre família. E nós dissemos que é porque o tema da diversidade sexual é muito invisibilizado e também precisam de destaque. Daí vemos a importância de tratarmos do assunto”, contou a estagiária de Serviço Social Lucilene Borges. Ao longo de toda sua existência já foram exibidos e debatidos filmes que abordavam temas como relação gay, homofobia, direitos da população homossexual, união civil, que discutiam as questões transgêneros e de lésbicas, entre outros.
O filme que abriu o evento desse ano foi “Camisinha Ainda tem prazo de Validade”, de Vagner de Almeida, coordenador do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA). Após a exibição, iniciou-se os debates acerca de tudo aquilo retratado na película, na presença de Vagner de Almeida para elucidar as questões. Uma delas foi sobre a ausência de medo das pessoas com relação ao HIV e a AIDS pela sobrevida alcançada pelos antirretrovirais e, por conseguinte, a não utilização da camisinha durante as relações sexuais. “A atitude e comportamento das pessoas é que leva você a usar ou não o preservativo. Mas o que interessa desse retrocesso todo que estamos falando é que quando sua autoestima é afetada, a camisinha também é afetada. Você passa a não se sentir valorizado pela sociedade e pela vida”, disse Almeida. Segundo o diretor, o filme reúne um bom apanhado de gente das mais diversas representatividades e isso foi uma das características mais importantes “porque não é porque você é pobre que não usa camisinha. Tem muito rico transando sem usar camisinha. Então não há classe social, gênero ou raça que influencie no uso e não uso do preservativo”, afirmou.
Outro ponto debatido na Roda de conversa pós-filme foi a falta de capacitação dos profissionais de saúde em questões como PEP (Profilaxia Pós-exposição) e PrEP (Profilaxia Pré-exposição). “Agora mesmo eu recebi um telefonema de uma amiga da área da saúde querendo saber onde poderia encaminhar uma pessoa para fazer PEP. Então, pra você ver, aqui dentro trabalhamos com isso, mas a informação não circula”, criticou a representante do PARN Marilza Rodrigues. “E dessa maneira a indústria farmacêutica é quem mais gosta. Sim, porque quanto menos informação tiver, mais remédios eles vão jogar para você tomar sem saber e assim eles ficam mais ricos, o governo investe menos e os dados (epidemiológicos) continuam estagnados”, completou Almeida. Sobre a erotização da camisinha o coordenador se mostrou contra algumas formas de se ensinar o uso do preservativo, mas é favorável na verdade a estimular, pois segundo ele “ninguém é igual a ninguém quanto a cor, espessura, tamanho. Então não adianta ficar ensinando como se coloca a camisinha em banana, cenoura e etc. Tem que estimular as pessoas a se tocarem e usarem com estímulos”. Os acordos mútuos com parceiros (as) também dividiram os participantes dos debates no que tange a confiança e a traição. Para alguns, traição está no ato de quebrar os acordos já estabelecidos numa relação como, por exemplo, quando utilizar ou não a camisinha no sexo. Já para outros reside mais no fato de ter alguém ao lado e simplesmente procurar uma terceira pessoa apenas para satisfazer um momento oportuno de prazer.
A Mostra de Filmes Tutti Frutti ocorre de 21/11 à 23/11 e ainda exibirá filmes focando na questão da transexualidade e das mulheres lésbicas, na Avenida 13 de maio, 23, 13º andar.
Texto: Jean Pierry
Fotos: Jéssica Marinho