O país que mais assassina transexuais, também é o país onde mais se consome pornografia com pessoas transgêneras (os) no mundo. É o que mostra um levantamento feito pelo site pornô Redtube. O levantamento realizado pelo site pornô não revela números específicos, mas deixa claro algumas características da relação do Brasil com a pornografia. “Você tem 89% mais chances de pesquisar sobre transexuais [no RedTube], se vier do Brasil” afirma o texto vinculado junto com a pesquisa. “Shemale” termo gringo comumente usado em sites pornôs para a busca de vídeos com trans, é o quarto tópico mais buscado pelos brasileiros. No ranking mundial, a mesma pesquisa ocupa o nono lugar. O número aumenta ainda mais quando se analisa as variações do termo e os regionalismos. Entre os 30 termos mais buscados pelos brasileiros, ainda vemos “travesti” e “brazilian shemale”.
De acordo com a pesquisa da ONG Transgender Europe, o Brasil se tornou o país que mais mata trans no mundo depois de registrar 604 assassinatos entre janeiro de 2008 e março de 2014. Além dos homicídios, outra violência recorrente às pessoas trans são as agressões físicas. Ano passado, a modelo Viviany Beleboni, que interpretou uma crucificação durante a Parada LGBT paulista, foi esfaqueada na rua após ser reconhecida. Esse tipo de dado nem computado é pela ONG.
A relação entre a transfobia brasileira e as buscas em sites pornôs pode ser encarada de diversas formas. “O site é uma fonte de informações para o agressor saber mais sobre as vítimas – e também para justificar seu ódio, porque lá ele vê coisas que não aceita”, afirma Carmita Abdo, coordenadora de pesquisas sobre sexualidade do Hospital das Clínicas. Também existe o desejo reprimido. “O agressor pode afirmar que sempre achou aquilo bizarro, mas se vê atraído, então, é capaz de fazer de tudo para sanar esse desconforto – inclusive machucar terceiros”, diz Carmita, que ressalva “É importante não generalizar. Não se pode dizer que todos os agressores estão buscando matar algo dentro de si, mas parte desse grupo pode, sim, ter esta motivação. As causas variam”, afirma.
No Redtube, um vídeo com a tag “travesti”, acumula mais de 450 milhões de visualizações. No Brasil off-line, nos primeiros 50 dias de 2016, ao menos 13 brasileiros foram assassinados por não se identificarem com o gênero que lhes foi designado ao nascerem.
Fonte: SuperInteressante