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Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA) manifesta repúdio à matéria ‘A Outra Pílula Azul’, da Revista Época


A Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA) vem manifestar o repúdio à matéria da edição impressa 1.031, da Revista Época. Em sua chamada de capa, a reportagem A Outra Pílula Azul acusa de forma preconceituosa a população gay por supostamente estar abandonando o uso da camisinha, pela chegada de uma nova tecnologia de prevenção do HIV/AIDS ao Sistema Único de Saúde (SUS): a Profilaxia de Pré-Exposição (PrEP).

Como poderia a matéria afirmar que um programa como a PrEP, que foi lançado ao público em 2018 e ainda está em fase de implementação pode ser responsabilizado por mudanças epidemiológicas em anos anteriores?

Caso fosse de fato uma peça de acusação, a matéria incorreria no grave erro de ser absolutamente infundada, mas como matéria jornalística incorre em uma série de problemas graves de elaboração. Entre eles: confundir preconceito com informação, utilizar-se de conclusões sem fundamento científico, além de ser elaborada de forma exatamente oposta a tudo o que disseram seus entrevistados.

a) Não existem estudos científicos que comprovem que as pessoas que utilizam a PrEP se descuidem da prevenção;

b) A PrEP é comprovadamente segura, com eficácia cientificamente comprovada em até 99%, o que não sustenta a conclusão da matéria de que o suposto abandono do uso da camisinha resultaria em risco de infecção;

c) O título A Outra Pílula Azul traz uma euforia indevida ao comparar um medicamento de prevenção (PrEP) com medicamentos para disfunção erétil. Assim sendo, subestima gratuitamente ambos os seus usuários e traz confusão aos leitores sem o esclarecimento da comparação utilizada;

d) A matéria incorre em erros prímários ao confundir PrEP com PEP (Profilaxia Pós-Exposição). Não foi a PrEP lançada no Brasil em 2010, como afirma a matéria na página 36, e sim a Profilaxia Pós-Exposição (PEP), outro método de prevenção;

f) Quando induz o leitor a acreditar erroneamente no aumento de infecção em escala pelo suporto descuido pelo uso da PrEP, o texto trata o medicamento como se já estivesse implementado massivamente em todo o país. Errado: a PrEP está disponível em apenas 11 estados, em 36 serviços de saúde brasileiros, alcançando uma população ainda muito reduzida, mas que, fundamentalmente, está sendo orientada e está se prevenindo. A ampliação da PrEP para o maior número de pessoas é uma reivindicação da sociedade brasileira;

e) Outro erro primário que beira o inadmissível é confundir os termos infecção com contaminação, trazendo mais confusão aos leitores e ressuscitando antigos preconceitos em pleno ano de 2018;

g) As pessoas que podem aderir ao uso da PrEP fora dos programas de saúde pública podem comprar o medicamento via internet – não nas farmácias, como afirma a matéria (página 36/37) – mas o valor médio de R$290 é uma barreira à sua popularização, o que também não fundamenta a ideia do aumento das DSTs pela causa descrita na matéria;

h) Ao usar o superado termo “grupo de risco”, a matéria traz à tona o preconceito sobre a população gay, como se fosse apenas este segmento que está deixando de usar a camisinha, reforçando estigmas e maltratando toda uma população que já sofre com as consequências do HIV/ AIDS há quase 40 anos;

i) Também a conclusão do título vai contra a fala dos entrevistados, que se mostram como pessoas que se cuidam. Estão trabalhando ou ajudando na construção de políticas e falando abertamente sobre prevenção com uma coragem não recompensada no texto.

A ABIA, que desde 1987 atua na luta contra o HIV/AIDS, acredita que implementação de uma política de prevenção também depende de um ambiente politico, social e culturalmente favorável para sua efetividade. A revista foi contra à criação deste ambiente.

Lamentamos que o caminho do sensacionalismo tenha sido o escolhido para vender exemplares nas bancas ou ganhar “clicks” na internet às custas de um desserviço à Saúde, colocando em cheque a PrEP, uma conquista da ciência e da sociedade, além de uma série de avanços alcançados em 40 anos de luta contra a epidemia e o preconceito.

Exigimos que a revista Época assuma o compromisso de elaborar uma retratação com o mesmo destaque da edição atual, contendo informações tratadas com a seriedade que o assunto e os entrevistados merecem.

Fonte: Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids – ABIA

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