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Assistentes do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens falam sobre a importância de Betinho e seu legado (2017)


Um Legado que não pode ser esquecido

Herbert José de Souza ou apenas Betinho fez contribuições valiosas para os mais diversos âmbitos, dentre eles os sociais, econômicos, biomédicos e políticos. Além de ter fundado a Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA), deu o pontapé inicial também para que outras instituições importantes fossem criadas no país, como o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase).

Militante ferrenho e persistente nos mostrou o quanto a nossa força de vontade é sim capaz de mover os mais diversos obstáculos implantados pelo alto escalão da sociedade brasileira. Antes mesmo de ter o diagnóstico confirmado da infecção pelo HIV, já fazia parte de um grupo que lutava pela resistência política durante a ditadura militar. Este feito fez com que Betinho tornasse-se um dos grandes símbolos de resistência daquele período. No entanto, mesmo com sua força, ética e resistência Betinho é pouco conhecido entre os jovens que compõem a atual população brasileira. Eu mesma, antes de chegar na ABIA, pouco ouvi falar sobre este magnífico homem. E este fato me faz realizar algumas indagações. Afinal, porque um homem com uma história de luta e tão importante para o crescimento social e político do país não é ao menos citado em uma aula durante o ensino fundamental? Ou quem sabe na faculdade, já que a mesma é um encontro de diversas tribos. Fico me perguntando se existe assim uma falha da educação brasileira? Ou quem essa não foi uma das formas encontradas pelos políticos de fazer com que as pessoas não tenham ideais tão fortes como o dele?

De fato, é de extrema importância que o conhecimento e trajetória de Betinho sejam perpassados para a maior quantidade de pessoas possíveis. Talvez percebendo que mesmo com todo um contexto político contrário para mudanças (como é o nosso atualmente) é sim possível pensar em dias melhores no futuro e acima de tudo ir para as ruas atrás dos mesmos.

Hoje eu só consigo falar sobre o legado deixado por Betinho graças aos conhecimentos conquistado dentro da instituição e principalmente dentro do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direito entre Jovens, onde em praticamente 70% das atividades realizadas o nome do lendário militante é lembrado. Apesar de este ser um fator que aumenta ainda mais a excelência do projeto e da ABIA, precisamos encontrar outras formas para que populações-chave que Betinho a 30 anos atrás já vinham lutando sejam capazes de seguir seus passos e assim solidifiquem os movimentos sociais, que vem sofrendo grandes perdas.

Falar de Betinho é sempre gratificante para mim como jovem negra e moradora de uma comunidade em conflito na zona norte do Rio. Afinal, o mesmo ao longo de sua trajetória nos deu uma lição de solidariedade e persistência. Talvez sejam essas duas características que faltem aos cidadãos, para que possamos reagir contra a falta de políticas públicas e assim nos agregarmos em busca de um bem comum como no passado.

É imprescindível buscarmos alternativas para que a cidadania, humanidade e ética de Betinho em prol dos mais necessitados e desencorajados sejam extintas do nosso dia-a-dia. Precisamos deixar de lado o nosso bem-estar, assim como Betinho fez, e lutar para o bem comum. A receita para que isto seja realizado ainda é uma incógnita, mas a mesma só será descoberta a partir do momento em que todos se mobilizem para que pessoas importantes na história de militância do país sejam conhecidas e reconhecidas por todas as classes, meios e conjunturas políticas.

Penso que uma das possíveis formas de engajar os mais jovens nessa nova militância, que sofre modificações diariamente, seja com o uso das redes sociais. É necessário que movimentemos os meios onde estes novos seres pensantes estejam para assim constituir uma rede de aliados, onde a multiplicação da informação e a vontade de se fazer presente dentro da causa sejam os pontos de partida.

Texto: Jéssica Marinho

A Importância do Legado de Betinho e o Desconhecimento da Juventude

É imprescindível não analisar o contexto político, social e econômico de hoje sem olharmos para o passado e buscarmos lá referências que hoje certamente ainda fariam diferença com sua liderança e capacidade de mobilização, ação e crítica sobre os agentes sociais. Um desses personagens, sem dúvidas, atende pelo nome de Herbert de Sousa, o Betinho. O sociólogo e ativista foi uma personalidade ímpar em nossa cultura brasileira, fosse por sua inteligência, fosse por suas atividades enriquecedoras dentro do contexto da fome e miséria no Brasil e, especialmente, na luta pelos direitos humanos das pessoas vivendo e convivendo com HIV/AIDS, doença pelo qual ele também foi acometido – além da hemofilia.

Seu legado passa diretamente e indiretamente pela justiça social e pelo diálogo, duas características atuais em defasagem dentro de nossa sociedade. Betinho foi suficientemente corajoso para romper e enfrentar adversários e adversidades que se impunham em seus objetivos dentro das causas pelas quais resolveu “brigar”. Consciente, sincero e aguerrido sempre foram adjetivos que carregava consigo, o que foi suficiente para que pudesse alcançar um status quo que poucas pessoas públicas conseguiram e conseguem até hoje. Desde os anos 80, no auge e início da epidemia de AIDS, com a criação da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) e a aliança com outras organizações da sociedade civil, que seu trabalho vem sendo ressignificado por aqueles que ainda resistem e persistem nesse árduo caminho pelo respeito, redução do estigma, direitos, prevenção e solidariedade para com a AIDS e outras populações historicamente marginalizadas.

Acredito que o maior legado de toda a sua obra resida na questão da humanidade e cidadania. Isto é, de olhar o próximo sempre como alguém que precisa de ajuda e ser ouvido e não apenas como mais um nas estatísticas ou relegado à própria sorte. Mesmo após 20 anos de sua morte, Betinho continua sendo fonte de riquezas para aqueles que ainda acreditam que é possível fazer a diferença e chamar a atenção para coisas que realmente importam de pessoas que realmente importam. Articulado, conseguiu perpassar por diversos setores, segmentos, gestores, públicos e realidades e isso determinou a amplitude do alcance de todas as suas atividades propostas em prol da sociedade brasileira. Isso mesmo em períodos onde sua presença incomodava, seu pensamento era contrariado e seu exílio foi provocado durante a Ditadura Militar. Solidariedade. Esse é o sentimento que sempre o acompanhou até os últimos dias de vida e é onde ainda pode-se buscar a saída de mais esse período conturbado de nosso país.

Entretanto, se por gerações Betinho foi sinônimo de solidariedade, esperança e boas recordações essa mesma memória parece ser bem fraca ou, simplesmente, inexistente entre as novas gerações (daquelas dos anos 90 para cá, mais ou menos). Isso porque percebe-se que entre a Juventude o nome do sociólogo ora é referido apenas como o responsável pela campanha Fome Zero ou nem isso. Sua atuação no campo dos Direitos Humanos e AIDS, passa longe de qualquer citação ou lembrança. O que é uma pena. Pois muitas das realizações do ativista ainda hoje são atuais. Se falarmos especificamente do aumento de novas infecções pelo HIV entre jovens, a questão se torna mais importante ainda. Pois essa mesma geração que é relapsa com seus feitos é a mais acometida por aquilo que ele sempre lutou.

Talvez isso não seja ou possa ser debitado apenas na conta dos mais jovens. Certamente, existe aí duas questões relevantes: a primeira diz respeito a cultura do brasileiro, isto é, esquecemos muito rápido de nossos ídolos e/ou personagens históricos. Salvo exceções. O segundo ponto passa pela Educação. O princípio norteador das palavras de Betinho é justamente o mais fraco e o principal agente de desmonte desse lapso, pois uma vez que não há um sistema eficaz, não se pode cobrar aquilo que não se aprendeu. Aquilo que não foi dado e ensinado como importante. Aquilo que nunca se ouviu falar, ou se ouviu, não fez diferença. O desafio para não deixar que sua obra seja suplantada ou engolida pelas novas tecnologias e a “era youtuber” é justamente conectar essa parcela da população através das ferramentas pelos quais eles mais utilizam. Com o advento tecnológico, muito material sobre o sociólogo é disponibilizado na internet e, portanto, acessível a todos. Mas somente estar ao alcance de um clique não resolve o problema. É preciso incentivo, investimento, ações – governamentais e não governamentais – que possam ser eficazes na perpetuação da luta pelo HIV/AIDS e outras mazelas sociais e também na elucidação da memória de um dos mais renomados atores sociais do Brasil.

Texto: Jean Pierry Oliveira

 

 

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