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Análises e reflexões sobre estigma e seus efeitos marcam a abertura do 2º Seminário Aprimorando III


A partir das 18h30, da última quarta-feira (15), o “2º Seminário de Capacitação em HIV – Aprimorando o Debate III: Estigma, Pânico Moral e Violência Estrutural” foi oficialmente aberto. Realizado no Centro Cultural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no Centro de Porto Alegre, o pontapé teve na mesa de abertura Fernando Seffner (professor da UFRGS e membro do conselho da ABIA), Simone Monteiro (professora da ENSP/Fiocruz e integrante do conselho da ABIA) e Wilza Villela (professora da Pós-graduação em Saúde Coletiva da UNIFESP).

Veriano Terto Jr, vice-presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA), abriu o evento repassando o histórico dos Aprimorandos e ressaltando a importância desse evento no atual contexto brasileiro. “Em tempos tão difíceis, estarmos aqui reunidos, falando de HIV/AIDS e principalmente de estigma, sexualidade e direitos humanos, sem dúvidas, é um ato de resistência. Principalmente num dia como hoje”, disse ele em referência aos protestos ocorridos dentro e fora da universidade – assim como em todo o Brasil – dos estudantes mediante aos cortes nas verbas praticadas pelo governo federal. Em seguida, o evento cedeu espaço para uma homenagem ao ativista recém falecido José Eduardo Martins Gonçalves, ex-presidente e um dos fundadores do Grupo de Apoio a Prevenção da AIDS do Rio Grande do Sul (GAPA-RS).

Estigma

Simone Monteiro foi a primeira palestrante. A professora trouxe seus apontamentos acerca do tema que norteia o Seminário, a partir dos seguintes temas:

  • Definição do estigma
  • Como o portador do estigma aprende sobre a sua condição
  • Função social do estigma
  • Pesquisa sobre estigma
  • Formas de enfrentamento do estigma da AIDS

Trazendo esses pontos para a perspectiva do HIV/AIDS Monteiro fez uma importante correlação para análise a partir do portador do estigma aprendendo sobre sua condição mediante o ponto de vista dos não estigmatizados. São eles:

– Socialização em situação de desvantagem (ex: nascer com HIV)

– Família protetora e controladora do indivíduo por meio da informação (ex: não revelação do diagnóstico)

– Pessoa estigmatizada numa fase avançada da vida (ex: diagnóstico HIV+ tardio)

– Socialização distante da sociedade dita normal (ex: casa de apoio de crianças vivendo com HIV/AIDS)

“E uma das reações a tudo isso, entre tantos aspectos, é a ação política. Só que aí para mim lutar eu tenho que mostrar minha marca. Aquilo que tenho. Senão não tenho como lutar, buscar direitos e fazer a diferença”, explicou. Além disso, ela ressaltou que o estigma também funciona como um mantenedor de desigualdades sociais, pois atua na (re)produção de relações sociais e dominação entre grupos e indivíduos.“(No HIV e AIDS existe uma situação de menos valia. E com isso a pessoa não somente internaliza o estigma, o medo, como também prejudica o seu acesso à saúde e sua vida como um todo”, completou ela.

“O que tem sido feito para enfrentar o estigma da AIDS hoje em dia?” Essa indagação silenciou o auditório e evidenciou o quanto nada tem sido feito para combater esse obstáculo. Para Monteiro, as ações nos últimos anos focaram com mais ímpeto em novas tecnologias de prevenção, mas sem levar em consideração o estigma, o diagnóstico e o TARV (terapia antirretroviral) no âmbito do HIV e da AIDS. E o estigma compromete uma série de avanços como suas intervenções micro e macroestruturais, tais como:

  • Ampliação do acesso a bens materiais e simbólicos
  • Visibilidade de viver com HIV/AIDS
  • Potencial dos serviços de saúde para criar espaços de diálogo e ações em parceria com o movimento social e outras instituições públicas

 

Do Social ao Subjetivo: Produção, Reprodução e Enfrentamentos

Esse foi o mote da fala de Wilza Villela, professora da pós-graduação em Saúde Coletiva da UNIFESP. Os pressupostos de sua apresentação trouxeram pontos que relacionavam-se com normas sociais vigentes como: arbitrariedades, o portador de HIV como “outro”, produção de desigualdades, diversificação de sua operação e público alvo (gays, mulheres, negros, homens, pobres, heteros e outros).

“O processo de estigmatização é sutil. E a gente vai deslocando, criando outros marcadores sociais e atualizando. E a AIDS, hoje em dia, tá cada vez mais negra. Tá empretecendo. Classe e raça estão se integrando”, alertou. Aliás, para ela, essa aliança do estigma com o classismo, sexismo, racismo e homofobia, por exemplo, exige ações estruturais – como acesso à trabalho, escola, suporte social – e ações no âmbito das relações interpessoais e intrasubjetivas.

Subjetividades Contemporâneas

Em sua definição são marcas que permeiam as interações nas quais o estigma se produz e reproduz. “É isso que cria a necessidade de reconhecimento, que é confundido com amor. Tem uma visão romantizada e filosófica nisso.  Outro efeito é a meritocracia/empreendedorismo, baixa tolerância à falta, medicalização/patologização do sofrimento e o medo do olho do outro”, pontua. Todas essas enumerações que se configuram aos processos de enfrentamento do estigma relacionado ao HIV.

Dilema para o Enfrentamento

Como ponto de reflexão, Villela deixou algumas interrogações:

  • Como superar meus preconceitos?
  • Para quem, quando e o que contar?
  • Como buscar empatia sem vitimização e sem tutelação?
  • Como articular práticas interpessoais à práticas políticas?

Isso suscitou alguns questionamentos do público, durante a sessão de perguntas e respostas que se seguiu ao fim da apresentação, que de maneira geral giraram em torno da relação médico-paciente, sorologia como forma de visibilização e empoderamento, acolhimento na atenção básica, carga viral indetectável e estigma e preconceito entre pares.

Encerrando, Veriano Terto Jr agradeceu à Richard Parker, diretor-presidente da ABIA, pelos esforços que permitiram a realização do 2º Seminário Aprimorando III, assim como toda a equipe da ABIA presente (e aqueles também não presentes) em Porto Alegre. Afinal, “não sabemos quando teremos uma outra oportunidade como essa, com recursos públicos via Ministério da Saúde, para debatermos questões tão importantes”.

 

Texto: Jean Pierry Oliveira
Foto: Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS

 

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