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ABIA relança pôster Direitos Sexuais são Direitos Humanos com roda de conversa


Foi realizado na noite da última terça feira (16), na sede da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA), no Centro (RJ), o relançamento do pôster Direitos Sexuais são Direitos Humanos. Originalmente publicado em 2003, através da oficina HSH (Homens que fazem Sexo com outros Homens), “o objetivo de relançarmos esse pôster foi para reforçarmos a importância dos Direitos Humanos ligado aos Direitos Sexuais nesse atual contexto social e político”, explicou o coordenador do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens Vagner de Almeida.

Diretor-presidente da instituição Richard Parker abriu a roda de conversa como debatedor convidado e contou sobre a retomada da resistência “como algo fundamental no centro dos direitos humanos e no campo do HIV e da AIDS. Isso é um humilde protesto nosso como forma de se contrapor ao que esse governo anda fazendo”, afirmou. Parker disse ainda que, historicamente, a ABIA sempre trabalhou a questão dos direitos sexuais desde os anos 80 “e considerávamos isso algo superado no Brasil. Mas desde o início da gestão da ministra Damares Alves (do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos) vimos que o caminho retrocedia e precisávamos fazer algo”, completou.

A ideia de que direitos humanos são para humanos direitos taxado pelo governo foi algo veementemente criticado por Veriano Terto Jr, vice-presidente da ABIA. “Essa coisa de dividir as pessoas entre bons e maus como esse governo faz, na verdade, é horrível porque direitos humanos são para todas as pessoas e cidadãos brasileiros. Então nosso protesto com esse cartaz é poder remontar as boas práticas do passado para enfrentarmos agora no presente essa agenda frágil e conservadora que estamos vivendo”, ressaltou. “E o princípio que deve nos mover com essa campanha é que direitos sexuais não são só para mulheres: são para gays, HSH, transexuais e isso merece ser possibilitado para todos e todas”, completou Parker.

Democracia

Durante a abertura dos diálogos para os demais participantes presentes ao evento, coube a Cleo Oliveira o primeiro comentário. “A busca por esse tipo de direito começou lá atrás com as travestis e transexuais e se caracterizou como um viés político para que pudéssemos ter nossos direitos reprodutivos, de prevenção, de me relacionar com quem eu quiser. E eu acho muito importante essa luta nos dias de hoje, mas sugiro expandirmos esse debate para um olhar voltado para as pessoas trans também. Porque eles e elas são afetados diretamente por essas políticas, também querem e estão reproduzindo, se relacionando com quem querem e isso muitas vezes não tá sendo levado em conta pelo movimento LGBT, nem por médicos e a sociedade”, observou a assistente social e funcionária da Fiocruz.

Darra Emanuelle, mulher trans negra, completou a fala de Cleo ao compartilhar com os demais as diversas transfobias que ouviu ao longo dos anos e durante sua transição, “ Isso tudo que a Cléo falou é extremamente necessário, pois eu como mulher trans e negra sofro diariamente essa falta de direitos. Não é fácil você sair na rua e ouvir de uma autoridade policial que não deve usar sutiã porque nem peito você tem. Eles nos negligenciam diariamente e isso é camuflado pela sociedade”.  Outra representante do coletivo trans presente no evento, Biancka Fernandes pediu que os corpos trans sejam “mais valorizados e respeitados, porque diariamente somos atacadas por aí. Nossos direitos não existem, e o pouco que conseguimos, muitas vezes não funcionam direito. E eu também quero dizer que temos todos que lutar junto. Eu sou branca e nordestina, mas não é porque minha amiga é trans e negra que eu não posso lutar por ela”, falou taxativamente.

Indagado pelo jovem ativista Jean Vinícius sobre o direito de duvidar, uma vez que o movimento social sempre busca a unidade das ações (de pensamento e ação, principalmente) e nem sempre considera as intersecções dos indivíduos, Parker afirmou que “é preciso respeitar a democracia. Temos que valorizar nossa diversidade, reconhecer a diferença de opinião, mas sem que isso derruba nossos objetivos e valores coletivos. Nós temos um objetivo em comum e isso pode ajudar a equilibrar uma diferença ou outra dentro e fora do movimento de AIDS”, salientou.

Para Lucilene Borges, estudante da UNIRIO, a questão da democracia é para poucos. Uma grande parcela está incluída como minoria e a pequena maioria, que detém os privilégios, “faz pequenas concessões para abafar e dar um cala a boca no povo. Então direitos humanos são para poucos e apenas se trocou a forma de agir e limitar os direitos”, disse ela. Mas de que minoria estamos falando? Esse questionamento norteou boa parte das discussões, uma vez que a depender do ângulo em que se observa, o público tido como alvo muda. Precisamos repensar esse termo de minoria porque muitas vezes a tida minoria é uma maioria. E muitas vezes precisamos sair das nomenclaturas para olharmos mais para nós mesmos e para os outros como forma de evoluir em nossos objetivos e lutas”, completou Almeida. “Cada diferença pode contribuir para o desenvolvimento de um denominador comum. Mas eu acho que nós perdemos essa capacidade”, lamentou Terto Jr.

Para Walter Sabino, ativista do grupo Pela Vidda, “ a sociedade como um todo precisa parar de se colocar em determinadas caixinhas, de se separar. Nós precisamos entender que apesar das particularidades de cada um, de cada movimento, existem intersecções que nos unem e essas devem nortear nossos debates.” Debates esses que diante dos extremismos praticados por ambos os espectros políticos e sociais no Brasil atual, fragiliza a democracia na visão da professora de História Sandra Brito. “A democracia nasce com o intuito de permitir esse diálogo. Ela é separada e analisada a partir da junção da “demo” e da “cracia”, ou seja, um governo onde o povo exerce a soberania. Então quando eu vejo hoje o povo apoiando candidatos que jogam juntamente contra a retirada de direitos de todos nós, como aqueles ‘pobres de direita’, eu realmente não me conformo”, exasperou.

O relançamento do pôster e roda de conversa Direitos Sexuais são Direitos Humanos foi mais uma ação positiva do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens da ABIA, com apoio da MAC AIDS Fund.

 

Texto: Jean Pierry Oliveira  e Jéssica Marinho

Fotos: Vagner de Almeida

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