As deliberações do HEPAIDS 2017 em Curitiba, realizado de 26 à 29 de setembro, caracterizou-se por diversas ações da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA), especialmente no dia 28/09. As 12h00, o Grupo de Trabalho sobre Propriedade Intelectual (GTPI/ABIA) realizou na Vila Social do 11º Congresso de HIV/AIDS e 4º Congresso de Hepatites Virais um “casamento” entre a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e a gigante farmacêutica Interfarma como forma de chamar atenção e satirizar os acordos entre as duas organizações na questão do acesso, produção e monopólio de medicamentos.
O Teatro Expressionista na luta contra o Preconceito e a AIDS
Em seguida, no palco Paulo Freire da Vila, às 12h30, foi a vez do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens de Vagner de Almeida trabalhar teatralmente com os participantes uma atividade da Oficina de Teatro Expressionista ‘Que Preconceito Você Trouxe Hoje?’. Durante uma hora o coordenador de projetos e seus assistentes – Jean Pierry Oliveira e Jéssica Marinho – interagiram com o público através de um jogral que convidavam todos a revelarem e exporem seus preconceitos. “Todos nós temos preconceito dentro de nós. Seja por gênero, sexualidade, religião, etnia e raça, com pessoas soropositivas e aqui é a hora de botar isso pra fora”, enfatizou no meio do salão Almeida. Um dos momentos mais falados e ousados da Oficina foi quando o jovem ativista Ozéias Cerqueira aceitou despir-se, voluntariamente, para o evento. Sem timidez e empoderado, ele afirmou que “temos que parar de ter vergonha da nudez. Eu me amo, amo meu corpo, me aceito e tô feliz comigo mesmo. Por isso não tenho problema em tirar a roupa. Vamos nos respeitar e viver nossas vidas como queremos”.
Desafios para o acesso a medicamentos para HIV e Hepatites Virais
Já durante o período vespertino, às 14h30, Veriano Terto Jr. – vice-presidente da ABIA – moderou o debate sobre “Desafios para a garantia do acesso a medicamentos para HIV e Hepatites Virais”. O tema norteador da mesa redonda girou em torno das “Políticas de Acesso a Medicamentos no Brasil e no Mundo: a dura realidade que a narrativa sobre o ‘fim da AIDS’ esconde”, de Richard Parker, que Terto Jr apresentou em substituição ao diretor-presidente da ABIA que estava afônico. “Hoje existe uma indústria global da AIDS que não consegue garantir um acesso global e universal de medicamentos antirretrovirais. Não queremos mais 20 anos para incluir pelo menos 20 milhões de pessoas, que foi o tempo que levamos para ter isso mais ou menos hoje”, discorreu.
Segundo ele, é justamente o patenteamento e a conseguinte propriedade intelectual na questão da AIDS que impede o direito à saúde e “transforma tudo naquele jargão de que saúde é comercio e mercadoria”, especialmente sobre países pobres e emergentes como o Brasil. E duas situações são determinantes para esse cerceamento farmacêutico a resistência dos governos em utilizar flexibilidades e a esperteza da indústria farmacêutica em manipular a saúde global. “Ou seja, a indústria farmacêutica internacional libera patente para países mais pobres ou vende por preços mais baixos, para calar a boca de ativistas e eles ficarem com uma boa imagem de quem não prejudica os mais vulneráveis”, completou Terto Jr.
O Fim da AIDS como Cortina de Fumaça
A rebiomedicalização da epidemia sustenta a falta promessa do fim da AIDS, com esperanças de balas mágicas e slogans enganosos que prometem resolver a epidemia sem enfrentar as estruturas que sustentam ela. Mas para Veriano, “a narrativa do fim da AIDS pode estar escondendo o sofrimento de milhões de pessoas sem o acesso aos antirretrovirais, as altas taxas de mortalidade por causa da AIDS que ainda existem em países como o Brasil e a falta de acessos à prevenção para todos e universal”, reverberou ele encerrando e alertando os presentes sobre a questão.
Texto: Jean Pierry Oliveira