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ABIA e Projeto Diversidade Sexual participam da abertura do Encontro Estadual de ONGs AIDS (EEONG) do Rio de Janeiro


Foi realizado no Scorial Hotel, no Catete, zona sul do Rio de Janeiro o Encontro Estadual das ONGs AIDS do Rio de Janeiro, na última sexta feira (24). Diretor-presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) Richard Parker foi o convidado que inaugurou o evento falando acerca do tema “O Movimento de ONGs AIDS em tempos de Bolsonaro”.

Com forte criticidade, Parker trouxe apontamentos e análises acerca dos desafios do movimento social organizado na luta pelo combate ao HIV e AIDS num contexto de conservadorismo ditado pelas ascensão do governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro e demais políticos. Para facilitar a compreensão de sua apresentação, Parker dividiu o tema sob os seguintes eixos:|

 

  • Estigma e Discriminação
  • Desafios da Prevenção
  • Dificuldade para manter o acesso ao tratamento
  • Assistência e SUS

 

“O desafio mais grave para mim e preocupante é sobre o estigma e a discriminação. A violência estrutural está presente e o bolsonarismo endossa práticas que não legitimam os direitos humanos, o que coloca as pessoas mais afetadas pela epidemia e as populações mais vulneráveis expostos”, advertiu ele. Além disso, ele afirmou que esse momento conservador, que faz aumentar o estigma e a discriminação, leva a outros fatores nefastos para o HIV e a AIDS, como o segundo eixo analisado.

“O estigma e a discriminação afeta outros campos dentro da epidemia de AIDS como para a prevenção. Não se pode falar de prevenção censurando o debate sobre gênero e sexualidade. Porque você impede que se chegue e dialogue com os jovens e outros públicos afetados”, criticou ele ainda lamentando os fins eleitoreiros e políticos acerca da chamada “ideologia de gênero” para ganhar votos. “Ao longo de quatro anos desse governo, se não tiver uma renúncia, veremos aumentar as infecções entre jovens HSH (homens que fazem sexo com homens), jovens gays, jovens trans e o movimento de AIDS precisa fazer alguma coisa para isso não acontecer”, alerta.

Acesso ao Tratamento

O terceiro ponto da fala de Richard Parker foi sobre as dificuldades para manter acesso ao tratamento. Apesar da negativa do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, Parker disse que “esse governo não tem nenhum compromisso com o SUS e a gente viu isso com o fim do Departamento de AIDS no Brasil, o que institucionalmente, coloca dificuldades para a sociedade civil e deixa sob suspeita a manutenção do acesso universal aos medicamentos que temos no Brasil”, refutou.

Finalizando a fala, Parker pediu que espera do movimento social de AIDS uma ação e resposta mais efetiva, pois “em 40 anos quase de epidemia de AIDS eu nunca vi uma situação política e social tão difícil como essa. E a assistência e garantia do SUS não é prioridade para o bem estar do povo. Isso vem de algum tempo não podemos aceitar”, encerrou.

“Temos que resgastar o espírito da solidariedade”

Durante os questionamentos do público, Parker respondeu perguntas sobre a invisibilidade da AIDS nos programas de saúde do governo e a pauperização da população que mais precisa de assistência. Sobre esses tensionamentos, ele disse que “eles podem dizer que a política não mudou com a saída do nome AIDS do departamento, mas a estrutura foi esvaziada de forma profunda. A minha previsão é que as coisas cão piorar muito para as políticas de AIDS, porque eles tem outras prioridades. Existe com isso uma invisibilização do nome AIDS, de suas populações afetadas e, de fato, quem mais precisa pode ficar sem assistência, favorecendo esse ‘genocídio’ ao lidar com a vida das pessoas”, taxou.

Criticando, porém, que o movimento social de AIDS não dialoga com outros movimentos organizados a ativista Cleide Jane disse que    “o dia que o movimento de AIDS for para a rua com os movimentos de estudantes, caminhoneiros, feministas e etc talvez a gente não precise ficar correndo de um lado pro outro quando somos atingidos”. Entretanto, Vagner de Almeida – coordenador do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens – rebateu ao dizer que “essas pessoas, desses setores organizados também não estão aqui Cleide. Você tá certa no que disse, mas cadê os estudantes? Os caminhoneiros? As feministas? E até os nossos outros colegas da AIDS? Então temos que ver isso também. Porque tá todo mundo em seus guetos e ninguém fala com ninguém”.

Com uma perspectiva histórica mais longa, Parker disse que “o movimento tem uma história longa, que vem desde os anos 80, quando não tinha dinheiro nenhum para apoiar a AIDS. Sempre tiveram diferenças, mas naquela época as pessoas souberam deixar as diferenças de lado para construir uma resposta política para a AIDS. E eu acho que esse espírito é que se perdeu hoje em dia para colaborar em solidariedade com outros movimentos. E temos que resgatar isso. Porque não podemos parar de ir para as ruas, senão estamos perdidos”, esclareceu.

“Mas as pessoas – os jovens, as mulheres, os positivos e outros – só se mobilizam quando são afetados diretamente. Só procuram quando precisam. Senão, eles vão ficar nos seus casulos, no anonimato e continuar indo para a praia ou pro oba oba. Estamos vendo um esvaziamento total dos espaços, seja na ABIA, na Amires ou no (Grupo) Pela Vidda”, rebateu Almeida.

Mesa de Abertura

Vagner de Almeida foi o responsável pela mediação da Mesa de abertura após as boas vindas de Richard Parker. O coordenador de projetos da ABIA teve ao seu lado quatro integrantes do movimento social. “Eu repudio a ausência do Estado nesse evento. Isso é uma falta de respeito com a sociedade civil. E a partir de hoje temos que nos impor mais para sermos respeitados”, pediu e criticou a ativista Ana Leila, uma das debatedoras da mesa, sendo aplaudida pelos demais por sua fala curta e objetiva.

Já a representante Thaís, da Casa Nem (que acolhe travestis e transexuais em situação de vulnerabilidade) trouxe a perspectiva da identidade de gênero e de sua vida, desde o Maranhão até aqui. Filha de uma mãe prostituta ela disse que “desde pequena eu ouvi que não passaria dos 18 anos. E eu cresci ouvindo falar de AIDS, porque o estigma é grande. Mas eu cresci, não tenho nem tive nenhuma DST ou HIV, já estive em duas relações sorodiscordantes e no que precisar eu estarei na luta, nas ruas e a Casa Nem também”, contou.

O processo de amadurecimento na convivência com a sorologia foi o mote da fala do jovem Anselmo Almeida. Ele agradeceu os presentes no auditório, mas lamentou a ausência de muitos outros ativistas. “Eu acho que o momento de não querer aparecer ou se esconder, o que eu até entendo, acabou. O momento é outro e pede todos nós nas ruas. E eu acho que está faltando empatia. Se colocar no lugar do outro”, refutou. Almeida ainda pediu que os pares do movimento “não mimem os seus colegas. Lutem e saibam seus direitos, mas não façam por eles. Sejam protocolares quando tiverem que ser. Porque quando acabar o medicamento ele não pode esperar você dar para ele. Mas bater lá na porta da secretaria (de saúde) e exigir o medicamento”, pediu.

O estudante de Psicologia e coordenador de eventos da Rede de Jovens do Rio de Janeiro Léo Aprígio lembrou que uma organização social para existir, tem que funcionar, “mas será que nossas organizações e fóruns estão funcionando?”, indagou ele emocionado. “Porque isso mexe com as pessoas que estão ao nosso redor, com vidas. Já gastamos muita energia com isso e não precisamos novamente. Porque se não estivermos organizados eles vão acabar com a gente. A gente tem que dar importância para quem está nos ouvindo e somar forças no coletivo e não com uma ou outra organização somente”, ressaltou em lágrimas.

“Todo mundo quer falar ao mesmo tempo e ninguém consegue se entender. Enquanto não pensarmos em solidariedade e não nos fortalecermos, porque estamos adoecendo, haverá uma fragilidade”, disse Vagner de Almeida.

Olhos nos Olhos

Coube a Juliana Reiche, do CEDAPS (Centro de Promoção da Saúde), promover uma dinâmica que tinha como objetivo fazer os participantes do encontro “olharem através da alma”. A primeira tarefa foi escolher um parceiro/uma parceira que você não tivesse contato ou amizade. Em seguida, deveriam dar as mãos e por último olharem fixamente nos olhos um do outro.

“Essa brincadeira eu faço muito em escolas do município e do Estado, porém pode ser aplicada para todos os públicos. A ideia é podermos perceber o que essa pessoa que está conosco está sentindo. O que será que os olhos dela querem dizer? Será que você conseguiria descobrir? E descrever o que sentiu durante a dinâmica?”, foi a indação proposta pela assistente de projetos aos integrantes do EEONG.

O Encontro Estadual das ONGs AIDS do Rio de Janeiro foi realizado nos dias 24/05 e 25/05 e também contou com Veriano Terto Jr – vice-presidente da ABIA – em seu segundo dia. Além disso, foi promovido por uma articulação de diferentes entes da sociedade civil, por meio de uma Comissão organizadora, e teve o apoio da UNESCO.

 

Texto: Jean Pierry Oliveira

Fotos: Vagner de Almeida

Assista um trecho da fala de Richard Parker no encontro:

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