Atualmente, a população LGBT representa quase 9% dos brasileiros, o que equivale a cerca de 18 milhões de pessoas. Segundo estudo da rede social LinkedIn, apenas metade dos profissionais LGBT do país já assumiu sua orientação sexual no trabalho abertamente. A pesquisa foi feita com mais de mil profissionais LGBTs e heterossexuais de vários segmentos e regiões do país e faz parte da campanha #ProudAtWork. Quando o assunto é preconceito no ambiente de trabalho, 35% dos entrevistados LGBT afirmaram já ter sofrido algum tipo de discriminação velada ou direta. A maior parte de colegas de profissão.
Cerca de 12% dos entrevistados afirmaram ter sofrido este tipo de preconceito dos líderes da empresa, incluindo gestores. O estudo revelou que piadas e comentários homofóbicos foram os mais citados entre as formas de discriminação. O levantamento apontou, ainda, que 25% dos profissionais LGBT já contaram a alguns de seus colegas sobre sua orientação sexual, enquanto os outros 25% ainda não falaram a ninguém. E os quatro principais motivos de não revelar a orientação sexual são: não ver necessidade (51%), não gostar de falar sobre a vida pessoal (37%), ninguém saber sobre a orientação sexual dentro e fora do trabalho (32%) e medo de represália por parte dos colegas (22%).
Mas para entender os desafios impostos pelo preconceito, é preciso entender que ele começa dentro da própria casa. É o caso de Lorena Diógenes da Silva, mulher trans, 28 anos, enfrentou essa rejeição dos familiares. Ela começou sua transição aos 15 anos de idade. Quando resolveu assumir a transexualidade não foi aceita pela família e decidiu, aos 18 anos, sair de casa sem concluir o ensino médio. Foi morar e se prostituir na Itália. Quando voltou, quatro anos depois, já estava com a transição completa. Passou dois anos tentando convencer a família a aceitá-la. Aos 25, correu atrás do tempo perdido: concluiu o ensino médio e passou a fazer cursos técnicos básicos, mas ainda não conseguiu se inserir no mercado. “Eu acho que se minha família tivesse me dado um apoio não tinha atrapalhado tanto minha vida profissional. Não consegui nenhum emprego por conta da qualificação”, afirma Lorena.
Lorena participou recentemente de um projeto promovido pelo Governo de Pernambuco, através da Coordenadoria de Política LGBT da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos (SDSDH). No último dia cinco de setembro, em parceria com a empresa O Boticário, foi realizada uma seleção de currículos para concorrer a vagas na empresa nas funções de atendente, vendedor, estoquista e caixa. Foram 100 currículos entregues, dos quais 35 foram acolhidos para a segunda fase da seleção. O resultado ainda será divulgado. A ideia é sensibilizar outras empresas para abrir processos similares. Em outubro está prevista outra seletiva, com uma empresa nacional ainda não divulgada.
“A sociedade precisa entender que essas pessoas também são sujeitas de direito e merecem todo o respeito, até porque tem a mesma contribuição de qualquer outra identidade de gênero. Então é preciso que se abram oportunidades. Se o mercado de trabalho, nesse momento do país, tem dificuldade grandiosa para todas as pessoas, para esse segmento é ainda mais restrito, até porque o preconceito ainda é grande”, sensibiliza a secretária executiva de segmentos sociais da SDSDH, Laura Gomes.
O Governo do Estado obedece ao requisito do chamado tripé da cidadania LGBT, que é composto pela coordenadoria de Políticas para a População LGBT, o Plano Estadual e o Conselho Estadual dos Direitos da população LGBT. “O mercado de trabalho é a dignidade de qualquer ser humano, então há uma preocupação de que a gente consiga incluir essas pessoas LGBT no mercado de trabalho para que elas tenham dignidade, independência e consigam sobreviver no nosso Estado”, explica a coordenadora da política LGBT da SDSDH, Poliny Aguiar.
Para o coordenador do Fórum LGBT e um dos organizadores da Parada da Diversidade, Thiago Rocha, o aspecto profissional é apenas um dos desafios da população LGBT. “O preconceito vai interferir diretamente em todos os aspectos da vida dessa pessoa. Na saúde, na educação, na família, e na questão da empregabilidade não é diferente. Antes de tudo, existe o empoderamento de cada cidadão, de cada pessoa. O reconhecimento de que a orientação sexual não interfere na prática de trabalho”, afirma.
“Acho que as barreiras nessa questão do emprego se remetem ao preconceito social. Muitas empresas deixam de contratar os LGBTs, principalmente as pessoas trans, pois é mais visível a questão da identidade de gênero, que é relacionada a um preconceito cotidiano. Por isso há um alto índice de mulheres trans e travestis se prostituindo”, lembra Thiago Rocha.