Gongaram em mim: Prevenção Combinada
Hoje eu estava "preparado para aprontar”, como sempre gosto de falar para os amigos. Quando saio, quero ferver e deixar a vida me levar. Sou sim uma “Zeca Pagodinha” dos gays. Amo deixar que a vida me leve, me traga homens para fazer sexo ou ir em busca deles. Não creio mais no amor, apenas no sexo e sou fervoroso até a morte. Ajoelho e baixa a “Vovó Chuparina” e o “Caboclo Chupador”. Amo! Uso sempre camisinha. Nem pensar em não usar! Faço “chuca” para evitar constrangimentos no sexo, passar cheque é a morte para mim. Falando a verdade, eu gosto de putaria! E deixo o salão de festa impecável antes de sair de casa e não quero “gongar” ninguém. Cheques só com fundos, faço sempre essa piada sem graça.
Vou a todos os locais de sexo livre ou sórdidos, sejam locais limpos ou lugares bagaceiros. Gosto de encontrar pessoas e dar a noite inteira. Não digo isto para todo mundo, mas gosto que me comam, esfolem o meu rabo. Não me importo se é picão ou picazinha, grossa ou fina. Eu quero é dar, fazer sexo, chupar até o dia amanhecer e durante o dia também. Sou uma bicha fácil e não exigente. Retifico o que disse, gosto muito mais de pica grossa dura longa e grande. Mas faço caridade para as menores.
Esse final de semana a casa caiu para mim e na minha cabeça. Dois carinhas que estavam me comendo no final da minha rua , dois vizinhos já conhecidos, um casado e o outro garanhão do bairro – e meus clientes assíduos “em off” – me convidaram para uma brincadeira, via a internet. Iríamos num matagal ali perto mesmo, pois nas suas casas não poderia ser. Como sempre, não podem levar um viado na casa deles. Estava escuro, muitos mosquitos e dei para os dois e dei muito, muito mesmo. Mas as camisinhas estouraram, e eu não senti. O segundo também estourou dentro de mim. S só senti que eu havia recebido a porra deles quando cheguei em casa e percebi a porra escorrendo em mim. Fui “abortar” e vi muita porra no vaso. Puta que pariu, fui gongada!
Procurei um amigo para me informar onde eu poderia ir para fazer o uso da PEP, pois escutei, mas nunca procurei me informar como usaria caso viesse a precisar como estava precisando naquele momento. Que sufoco!!Só se pensa em Santa Barbara quando ronca trovoada.
Que angústia, não consegui falar com a bicha, fui até a casa dela e nada. Corri nos bares em volta e nada. Tentativas inúteis por telefone, WhatsApp… Ai que angústia!!
Tudo passa na nossa cabeça nesta hora. As dúvidas, as certezas erradas borbulham na nossa cabeça. Eu, a toda certinha que sabe dar o “edi”, caio nesta armadilha do destino. Logo dois gozaram em mim. Na verdade, eu não sei se foram os dois, se foi um, quem foi, isto não importa agora, pois o desespero nos leva a criar imagens ou acreditar no que queremos acreditar.
Aí vem na nossa cabeça os mitos sobre a AIDS, as dúvidas sobre como vou me cuidar, como vou ficar, e se as pessoas descobrem que tenho o vírus HIV, como vai ficar a minha vida sexual, minha família, se vou morrer… são tantas coisas em tão pouco tempo, que chega a ser assustador.
Passei cinco horas de angústia sem fim. Finalmente minha amiga bicha hiper bem informada e plugada, me ajudou a chegar em um local que eu pude iniciar o tratamento dessa tal Profilaxia pós Exposição, a PEP, que pode salvar a minha vida.
Eu não sei se os caras são ou não soropositivos – e os que me comeram desta vez – nunca falamos sobre isto. Sempre exigi deles a camisinha, apesar de já me pedirem para fazer sem ela. Sempre sou dura na queda em reagir a tal pedido. Os caras não estão nem aí, se fodem comigo sem camisinha, fodem com qualquer outra bicha com ou sem preservativos.
Agora com a ajuda da minha amiga vou fazer esse tratamento por 28 dias. Tive a sorte, nem todos têm, de em 72 hora iniciar o meu tratamento.
Os dias se passaram, longos dias.
Durante os 28 dias fiquei ansiosa e apreensiva com o resultado que ainda teria que receber.
Só falei com uma amiga, essa bicha que já tinha feito também o tratamento. Ela me deu muita força e coragem e depois só aguardei o dia de retornar ao posto para refazer os exames.
Eu tive sorte de encontrar enfermeiras e assistentes muito bem informadas, prestativas e preparadas para ajudar as pessoas a enfrentarem este diagnóstico. Mesmo me mostrando os prós e contras, me trouxeram a importância da vida sexual ativa e saudável. Não senti desta vez nenhuma discriminação ou estigma e me senti muito mais calma e confortável depois desse rally da vida angustiada. Não foi algo rápido, foram longas horas de expectativas, pois os minutos eram longos.
Confesso que senti um alívio numa certa dosagem para reforçar a minha atenção. O autocuidado só chegou depois do último resultado em minhas mãos.