Chegar em casa do trabalho e ter a roupa lavada, a comida pronta e uma casa limpa e confortável, quando se é jovem, é antes de mais nada uma comodidade. Com menos responsabilidades, geralmente, para se pagar contas – por exemplo – a juventude contemporânea (muito antes de coronavírus) já vinha adiando o momento de “bater asas e voar” para morar sozinho/a.
Num contexto de pandemia – com desemprego, fome, isolamento social e outros agravantes – pensar em tornar-se independente e assumir responsabilidades por si só, com todo o peso que levar uma casa nas costas oferece (água, luz, gás, telefone, internet, aluguel etc), é quase inimaginável – principalmente pela questão emocional. Mas não para Leandro Poiani.
O jovem de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, resolveu inverter as expectativas e decidiu que, mesmo com um cenário desfavorável, era preciso tomar as rédeas da sua vida e para isso precisava dar o passo que faltava: morar sozinho. “ Eu estava em uma zona de conforto, nossos pais não duram para sempre, acho que eles nos criam para isso né? Para a gente seguir o nosso caminho. Então resolvi tentar. Acho que estou conseguindo (risos)”.
Agora morador da zona norte do Rio de Janeiro, o nutricionista contou ainda em entrevista ao Fala Jovem, do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens, da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) seu ponto de vista sobre outros aspectos: sexualidade, pandemia, prevenção, futuro.
Confira a entrevista na íntegra abaixo:
Apresentação/ Sobre Sua Vida
1- Nome completo e Idade
R: Leandro Roberto Pinheiro Poiani, 28 anos.
2 – Você reside na zona norte do Rio, mas durante muito tempo morou em Duque de Caxias com sua mãe. Por que resolveu morar sozinho? E quais os desafios de assumir uma casa sozinho?
R: Olha, foi pelo fato de tentar encarar esse desafio, de ter essa responsabilidade, pois acabava que eu estava em uma zona de conforto, nossos pais não duram para sempre, acho que eles nos criam para isso né? Para a gente seguir o nosso caminho, só era necessário um estímulo para isso.Então resolvi tentar.Acho que estou conseguindo (risos).
Sobre os desafios é realmente ter esses novos hábitos, de ter que cozinhar (que é uma coisa que eu descobri que eu odeio), de lavar roupas, de comprar comida, as finanças também e essas coisas de casa que eu não tinha muita noção porque justamente quem cuidava disso era ela. Estou me acostumando com tudo e aos poucos eu consigo.
3 – Como é a relação com sua família?
R: Bem, eu digo que atualmente estamos em uma relação boa mas isso é uma coisa de fases (que essa dure bastante tempo) assim como também tem época que tá uma coisa problemática mas eu acho que isso toda família tem né? Enfim, tem que ter bastante conversa em certas situações e aqui na minha família falta um pouco.
4 – Sobre a pandemia, de que forma o isolamento social causado pelo coronavírus afeta ou já afetou sua saúde mental? E o que tem feito para distrair a mente e evitar os gatilhos psicológicos?
R: Afeta pelo fato de estar longe dos amigos ou aproveitar um final de semana qualquer para poder ir em algum barzinho ou shopping, colocar a conversa em dia, sabe? Ter aquele ”happy hour” que era uma válvula de escape para os estresses da vida, do trabalho, ou da família.
Então para distrair a minha mente eu to maratonando mais coisas como nunca fiz (risos). Aqueles filmes antigos, sagas , confesso que ainda falta eu ler mais, só que nunca fui chegado nisso, agora assistir filmes, séries, jogar vídeo games é uma paixão que me distrai muito e evita ter esses gatilhos.
5 – Como você avalia a vacinação, no RJ e no Brasil como um todo?
R: Muito lento, nós temos um governo federal que não ajuda muito e acaba atingindo outras esferas como a estadual e municipal. No início tivemos uma vacina muito politizada e também a falta do incentivo a vacinação que é a nossa única solução no momento, não tem outra coisa pra se fazer e sim ter vacina para todos !
Relacionamento e Prevenção
6 – Sobre a questão da prevenção, você tinha abertura para conversar isso dentro de casa? Ou o assunto era tabu? Quando tinha dúvidas ou dilemas nesse sentido, como buscava resolvê-los?
R: Então, eu nunca me senti bem em conversar essas coisas dentro de casa e também não tive nenhuma abertura para isso, sexo sempre é um tabu ne , principalmente para pais mais antigos de outra geração. As coisas eram diferentes no tempo deles, o mundo evoluiu muito rápido e eles pararam no tempo. Minhas dúvidas ou dilemas sempre foram esclarecidas na internet ou com alguns amigos.
7 – Jovens de 15 a 29 anos são grupos populacionais, atualmente, que lideram os índices de infecção por HIV/AIDS no Brasil. Ao mesmo tempo, nunca se teve tanto acesso às informações e outras tecnologias. Em sua opinião , o que faz com que a juventude se infecte tanto por HIV?
R: Eu acho que é a falta da vivência na época em que o HIV/AIDS era uma coisa descontrolada, uma doença nova e que ninguém sabia como tratá-la e coisas que talvez nossos pais tenham vivido isso.
8 – A Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) trabalha, bem como o Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens, envolvida em questões do HIV/AIDS, prevenção, direitos humanos e justiça social para com populações vulneráveis (soropositivos, LGBTs, comunidades, jovens, negros, mulheres etc). Você considera que esses tipos de ações são importantes? Por quê?
R: Sim, são importantes. Porque são populações vulneráveis né, muitas vezes sem assistência dos órgãos competentes e isso faz (com) que eles se sintam estranhos ou à parte ou diferentes do resto de todo mundo. Mas não é assim, todos nós somos iguais e merecemos o mesmo direito que x ou y tem.
Futuro
9 – O que pretende fazer assim que for vacinado e que agora não pode?
R: Me reencontrar com alguns amigos que estou há muito tempo sem ver, desde o início da pandemia né? Parece tanto tempo.
10 – Qual sua perspectiva para o futuro?
R: Atualmente…não muito boa. Vivemos num Brasil muito polarizado e radical, se você não gosta disso, se você não ama aquilo é crucificado, ameaçado ou até agredido por isso. Tempos sombrios, não sei quanto tempo permanecemos assim ou se pode melhorar, vamos ver o que vai dar né ? E é isso.
Texto: Jean Pierry Oliveira
Foto: Arquivo pessoal