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Quem são as pessoas sob maior risco de se infectar com sífilis no Brasil?


A PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) é uma forma de prevenção moderna, potente e segura, que revolucionou a prevenção das ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) na última década. No entanto, seu uso garante proteção somente contra a infecção por HIV.

Por muitos anos, o uso da PrEP foi alvo de críticas por causa da sua cobertura parcial contra as ISTs. Segundo aqueles que se posicionavam contra a sua implementação no Brasil, a PrEP poderia provocar o abandono no uso da camisinha e uma explosão no número de casos de sífilis.

Quem lê o último Boletim Epidemiológico de Sífilis do Ministério da Saúde percebe que a sífilis no Brasil na verdade já está “explodindo” desde 2010, quando começou a ser notificada de forma compulsória, 8 anos portanto antes do início da implementação da PrEP no país.

Uma causa muito mais plausível para esse aumento é a maneira como o assunto tem sido abordado nas campanhas oficiais de prevenção, que insistem em propor como solução para a sífilis exclusivamente o uso da camisinha, deixando de pontuar a importância da testagem e do tratamento para o controle efetivo dessa epidemia.

Hoje compreendemos que a PrEP não causa o aumento nos casos de sífilis nas localidades em que é usada. Ao contrário, o acompanhamento oferecido aos usuários de PrEP possibilita a testagem periódica para essa infecção em indivíduos considerados altamente vulneráveis e que em geral não tinham essa rotina. Com isso, os casos incidentes de sífilis podem ser diagnosticados e curados precocemente, interrompendo assim a cadeia de transmissão para novas pessoas.

Nesse sentido, é fundamental entender qual o perfil dos indivíduos que estão sob maior risco de se infectarem com sífilis, para que então possamos priorizar entre eles a rotina de testagem.

Foi isso que um estudo brasileiro, apresentado por Isabela Ornelas há duas semanas na Conferência Mundial de HIV/Aids, se propôs a fazer. Utilizando o banco de dados gerado a partir do atendimento dos usuários de PrEP pelo SUS, os pesquisadores determinaram quem são os indivíduos no Brasil que mais se infectam com sífilis ao longo do seguimento de PrEP. E os resultados são impressionantes.

O trabalho incluiu na análise 8.566 pessoas que iniciaram a PrEP pelo SUS entre janeiro de 2018 e novembro de 2019. Um total de 786 (9%) deles, tiveram ao menos uma sífilis diagnosticada no período e a análise estatística deixou claro que os casos incidentes não se distribuíram de forma homogênea na população estudada.

Pessoas mais velhas, por exemplo, tiveram mais chances de se infectar com sífilis. Aquelas com idade entre 40 e 49 anos tiveram cerca de 1,5 vezes a chance das com 18 a 24 anos de ter uma sífilis diagnosticada. O mesmo risco aumentado foi encontrado entre aqueles que referiam, no início da PrEP, que já tinham tido alguma IST na vida.

Riscos ainda maiores foram encontrados entre indivíduos que tinham múltiplas parcerias sexuais no trimestre anterior (cerca de 2 vezes as chances de quem tinha uma única parceria); entre homens gays e bissexuais (5,63 vezes as chances dos homens heterossexuais); e entre mulheres transexuais (6 vezes as chances dos homens cisgênero).

Não foi encontrado risco maior de se infectar com sífilis entre os indivíduos com uso menos frequente do preservativo em suas relações sexuais. Uma possível explicação para esse resultado é o fato dessa infecção ser facilmente transmitida em situações em que a população geral nunca usou o preservativo de forma consistente, como no sexo oral.

As informações encontradas devem servir para o ajuste e refinamento das políticas públicas de saúde de controle da sífilis e não para discriminar aqueles identificados como sob maior risco. Elas nos mostram que repetir exaustivamente o mote “Use Camisinha” não fará com que os números da sífilis melhorem.

Pessoas mais vulneráveis à sífilis e outras ISTs precisam sim de aconselhamento de saúde sexual atualizado, com acesso facilitado a preservativos, PrEP, PEP, testagem e tratamento das ISTs. Não apenas de camisinhas e julgamento por não as usarem. Só assim, com as políticas públicas mais próximas e alinhadas com a ciência e a vida real, será possível atingir o controle das epidemias de ISTs.

Fonte: Viva Bem (UOL) / Coluna Rico Vasconcelos

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