A edição 2020 do Festival Literário de São Gonçalo (FLISGO) 2020, por conta da pandemia, teve que se adaptar aos novos tempos e realizou o evento de forma totalmente online. Entre 20 e 23 de novembro o Festival reuniu participantes de vários estados e também de fora do país. As programações foram abertas às 10h e fechadas às 22h, durante todos os dias do festival pelo canal Q-Cria! Do YouTube, Instagram, Facebook e sites parceiros do encontro.
Com o tema ‘Desafios e Alternativas’ a FLISGO teve como objetivo discutir a superação das dificuldades encontradas pelos artistas e produtores de arte e cultura do município. A proposta da FLISGO esse ano é entender e discutir os desafios da existência do artista, buscando de forma coletiva, soluções e alternativas para o fazer arte e cultura, desmarginalizando e potencializando ações efetivas. O festival, assim como em sua primeira edição, mais uma vez, contará com manifestação de diversas linguagens como teatro, dança, contação de histórias, saraus e lançamento de livros online. Um dos convidados para abordar o assunto foi o Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA).
“Nós queríamos fazer algo semipresencial, mas entendemos que não é o momento, ainda estamos na época de enfrentamento ao Covid-19. Entendemos que um evento como esse atrairia grande aglomeração, o que não é o objetivo esse ano”, explicou Alberto Rodrigues, coordenador da FLISGO.
“A grande novidade desse ano é que a gente veio resolvendo um problema. As feiras acontecem para auxiliar escritores independentes e editoras novas, mas esse foi difícil. No entanto, nós conseguimos resolver isso”, completou Rodrigues. O evento teve uma programação com cerca de 30 bate-papos, a presença de mais de 70 autores, quatro saraus e participantes de seis países ao redor do mundo.
Além disso, através de uma parceria com a Milanesa Store, o festival foi o primeiro do Brasil a disponibilizar uma plataforma personalizada de e-commerce para a venda dos títulos de autores e fazedores de cultura durante todo o mês de novembro. Algumas das personalidades mais conhecidas do evento foram: Rodrigo França, Jana Guinond, Adalberto Neto, Helena Teodoro, Verônica Marcílio, Katiúscia Ribeiro, Hélio De La Penha, Patrícia Santos, Luis Erlanger, Luciana Savaget, Andreia Prestes.
Debate
Vagner de Almeida, coordenador do Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens, foi o convidado da ABIA para compor o painel sobre “Narrativas LGBTQIA+” da FLISGO 2020. Ao seu lado esteve a jovem escritora trans Paula Nascimento, ambos conduzidos pelo mediador Well Castilhos.
“Minhas inspirações são o cotidiano e as falas das pessoas, suas experiências e vivências. Quando começo a produzir um documentário uma das principais características é nunca colocar fala na boca das pessoas. Não é um filme onde você vai ter uma ficção com a Julia Roberts toda protegida e produzida. É um olhar sobre pessoas vulneráveis e jovens, como aquelas retratadas em ‘Sou Mulher, Sou Brasileira e Sou Lésbica” e as meninas trans da Via Dutra’, por exemplo”, respondeu Almeida quando questionado sobre o que o leva a criar seus filmes.
Outro ponto de destaque em sua participação foi sobre as mudanças de gerações que afetam o cotidiano e as experiências de ser um LGBTQIA+ no Brasil hoje. Complementando a fala anterior de Paula Nascimento – que tem livros que falam sobre questões trans e lésbicas – que “eu sou de um tempo onde não existia pessoas trans ou travesti. Ou era gay ou era sapatão. Então, hoje em dia, existem todas essas letras entre nós e uma juventude que busca coisas diferentes e reivindica novos direitos”, afirma ele.
Como não poderia passar batido, tamanha violência, o painel também cedeu espaço para dialogar sobre as questões raciais, principalmente diante da morte do homem negro João Alberto, dentro da unidade do Carrefour, em Porto Alegre no Dia da Consciência Negra, na última sexta feira (20). Incrédulo com o que viu pelas redes sociais, Vagner de Almeida criticou anônimos e alguns ditos famosos que buscaram justificar o ato ao associar “que a mídia criou um fato para gerar comentários só porque quem morreu foi um homem negro. E que isso é culpa da Rede Globo. Não se trata disso. Se trata que o racismo no Brasil é muito forte e tem que ser veiculado sim. Eu morei nos EUA e a gente percebe como o racismo atua lá e aqui no Brasil: é brutal. E chega no ponto que vimos de dois seguranças, que deveriam ter treinamento, agredirem um só homem”, criticou.
Em seguida, os convidados fizeram seus agradecimentos e encerraram o evento com o sentimento de dever cumprido em mais uma edição da FLISGO 2020.
Texto: Jean Pierry Oliveira e Jéssica Oliveira