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Pesquisa americana analisa a “cultura do estresse” e a solidão em jovens


Há quem diga que as redes sociais ao mesmo tempo que derruba fronteiras, também promove afastamento e isolamento social das pessoas, especialmente dos jovens. Porém não é totalmente isso que ficou evidenciado na pesquisa da empresa de saúde Cigna, nos EUA. Publicada originalmente no jornal “Washington Post” e aqui no Brasil via O Globo, confira abaixo a matéria sobre o estudo na íntegra:

Na semana passada, um estudo da empresa de saúde Cigna mostrou que os jovens adultos de 18 a 22 anos são a geração mais solitária de americanos, mais desconectados e isolados até que os idosos nos Estados Unidos. Como uma educadora trabalhando em campus universitário, não estou surpresa. Mais de 40% das pessoas com 18 a 24 anos são estudantes universitários, e os jovens que batem à porta de meu escritório são notadamente diferentes daqueles com quem fui para a escola nos anos 1990.

Quando cheguei pela primeira vez ao campus, mantive papos leves com os alunos sobre minhas divagações e as brincadeiras bobas que fazia tarde da noite durante minha vida universitária. Depois de meus dias frenéticos no ensino médio em Rockville, Maryland, nos quais eu corria da escola para as práticas esportivas e delas para os deveres de casa, a faculdade me ofereceu uma mudança de ritmo: tinha tempo suficiente para dormir, ir às aulas, ser babysitter e fazer meus trabalhos, enquanto também podia sair com meus amigos. Presumia que o mesmo seria verdade com meus estudantes.

Ledo engano. Eles entraram em suas vidas universitárias com a agenda intensa que tinham no ensino médio, preenchendo cada minuto com trabalhos. O fenômeno pode ser visto em todo o país. A Pesquisa de Calouros da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) de 2015, que inclui respostas de 150 mil estudantes em tempo integral de mais de 200 faculdades e universidades, mostrou que o número de alunos de primeiro ano que passavam 16 ou mais horas por semana com os amigos caiu pela metade em dez anos, para apenas 18%. O mesmo levantamento mostrou que 41% dos estudantes diziam se sentiam “sobrecarregados por tudo que têm que fazer”, e foram registrados os maiores níveis de infelicidade já vistos entre as mulheres, que são a maioria entre os universitários.

Como é possível que, em uma época na qual o acesso às amizades está em seu auge, mais da metade dos jovens adultos se sente excluída, isolada e sem ter alguém para conversar? No final, o estudo descobriu que as pessoas que tinham frequentes e significativas interações tinham uma saúde melhor e se sentiam menos solitárias do que as que contavam com pouco tempo para ficar cara a cara com outras.

A resposta não está nos smartphones — pelo menos não tanto quanto pensamos. O estudo da Cigna não encontrou uma correlação entre uso de mídias sociais e solidão. Não há dúvida de que essas redes amplificam os sentimentos de insegurança e o medo de ser excluído. Mas impingir a elas a culpa exclusiva disso simplifica um problema complexo e desvia a atenção de outras forças culturais que estão minando o bem-estar dos jovens.

De fato, dificilmente a causa do problema será o fato de que os universitários ficam todo seu tempo sozinhos e de olho nas telas. O problema é que eles passam muitas horas com os colegas só trabalhando: participando de reuniões, produzindo peças, organizando conferências ou estudando. Eles priorizam atividades que atinjam objetivos, não conexões significativas. O estudo revelou que 69% dos integrantes dessa faixa etária sentem que as pessoas à sua volta “não estão mesmo com eles”, e 68% sentem que ninguém os conhece de verdade. Suspeito que isso seja porque os jovens adultos estão muito menos satisfeitos em ser do que em fazer.
Os alunos que entrevistei em todo país temem que, se não estiverem constantemente ocupados estudando ou participando de reuniões, algo está errado com eles, suas agendas ou sua ética de trabalho. Estas novas normas da “cultura do estresse” se traduzem em menos oportunidades de deixarem suas conversas e mentes divagarem. No mínimo, muitos jovens adultos se voltam para as telas de seus aparelhos porque acham que esta é a única recreação autorizada numa cultura de trabalho constante. Você não precisa sair de sua mesa na biblioteca para “passear” pelo Instagram ou responder a um teste do BuzzFeed.

SENTIMENTO DE CULPA NO ÓCIO

Mas por que não ir para a academia ou ligar para um amigo? Os estudantes me respondem que “todo mundo está trabalhando mais duro do que eu” e “não posso parar”, crenças errôneas alimentadas por um sentimento de inadequação pessoal que alimenta seu isolamento. “Não posso descansar”, disse-me um aluno do segundo ano da faculdade. “Sinto que estou fazendo algo de errado se não estou fazendo nada”. São as horas das refeições, dizem os estudantes, os últimos bastiões das conversas casuais (e essas, também, frequentemente se voltam para assuntos de trabalho). “Quando estou comendo, sinto que há uma justificativa para não estar trabalhando”, disse-me um aluno do terceiro ano. “Em qualquer outra situação em que esteja me divertindo muito, não estou totalmente presente. Sinto-me distraído e algumas vezes não totalmente engajado porque me sinto culpado por não estar trabalhando”.

Estar sobrecarregado e constantemente ocupado são as novas linhas de base. Qualquer coisa menos, para muitos jovens, é ser preguiçoso. Ainda assim, meus estudantes anseiam por conexões mais autênticas com os colegas. O retorno mais comum que me dão em suas avaliações dos programas? Querem mais tempo apenas “para conhecer” seus colegas de turma.

A ocupação constante cobra seu preço não só na qualidade das relações, mas também nas habilidades que os jovens adultos precisam para forjá-las. Entrar em um dormitório do qual você só conhece uma pessoa ou outra, papear com pessoas em festas, conectar-se espontaneamente com um estranho numa orientação — isso acontece naturalmente com apenas alguns poucos. Habilidades sociais são como músculos: elas têm que ser flexionadas repetidamente. A capacidade de fazer amigos se atrofia se não for usada.

E a mão “não tão invisível” dos pais nas agendas dos estudantes universitários também é evidente neste processo, apesar de alguns contorcerem as mãos e alegarem que seus filhos “colocam muita pressão sobre si mesmos”. Em 2014, o Making Caring Common (projeto educacional da Universidade Harvard) detectou uma enorme lacuna entre o que os pais diziam valorizar em seus filhos e o que as crianças dos ensinos fundamental e médio diziam que seus pais de fato tinham apreço. Cerca de 96% dos pais disseram aos pesquisadores que o caráter moral era “essencial” em seus filhos, mas mais de 80% dos adolescentes disseram que seus pais valorizavam mais as suas realizações e conquistas ou sua felicidade pessoal.

 

Fonte: Jornal O Globo

 

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