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O que aconteceria aos professores trans com o Escola sem Partido?


Foi com bastante carinho que a professora de filosofia Luiza Coppieters foi recebida pelos alunos da escola em que lecionava quando se revelou transexual, em 2014. A docente era uma das mais queridas pelos estudantes desde 2009, quando passou a fazer parte do corpo de professores do colégio. Contudo, a transição não foi bem aceita pela direção.

“Pediram que eu fosse discreta e, aos poucos, foram tirando aulas da minha grade. Quando dei por mim, meu salário caiu de quase R$ 6 mil para R$ 2 mil. A decisão foi da escola, não dos alunos. Por eles, eu teria ficado, mesmo ‘vestida de mulher’, que era como me sentia bem”, ela conta. Luiza foi demitida pouco tempo depois.

Quando apareceu usando um sutiã por baixo da roupa na frente de mais de 30 alunos, Luiza sabia que precisava explicar aos pupilos o que tinha acontecido ali. Passou uma aula inteira falando sobre transexualidade e teoria de gênero. Segundo Luiza, é possível reduzir toda essa discussão à demissão em massa dos professores trans. “Quer mais aula sobre gênero do que ter um professor trans em sala de aula?”, questiona.

O sociólogo e especialista em pedagogia Eduardo Viveiros concorda que, se aprovado, o projeto vai impedir que professores trans exerçam a profissão. “Uma escola deve ser democrática e ensinar que há outras perspectivas além do que prega a família tradicional brasileira. Impedir que alunos discutam gênero, política e sociedade gera alienação, é ilegítimo e perigoso. Esse tipo de ensinamento cria indivíduos intolerantes e violentos”, afirma.

“Se um pai não quer que o filho tenha acesso a esse tipo de informação, basta mudar a criança de escola. Agora, exigir que todas as escolas se adaptem ao que eles querem é de uma insensatez gigante”, opina o especialista.

“Minha primeira aula é sobre gênero”

“Sempre que chega uma turma nova, minha primeira aula é sobre questões de gênero”, diz a professora de inglês da rede pública Geanne Greggio, de 41 anos. Para ela, não tem como ser diferente. “Sou uma mulher trans. Não gosto de deixar meus alunos com dúvida. Sou eu quem vou acompanhá-los durante pelo menos um ano, por isso, precisam saber quem eu sou. Contar minha história, normalmente, é tranquilo. Dou espaço para que os alunos tirem todas as dúvidas sobre sexualidade e gênero. A partir de então, todos me tratam com respeito e carinho. A gente sabe que o problema não são os alunos, mas o que querem fazer com eles”.

A transição de Geanne aconteceu há 20 anos, assim que ela foi aprovada no concurso público do Estado de São Paulo. “Sempre que falo de gênero com meus alunos, não falo sobre pênis e vagina, mas, sim, sobre igualdade entre homens e mulheres. Falar de gênero é falar de respeito, e não ensinar alguém a ser homem ou mulher. Isso não existe. O que eu posso fazer é ensiná-los a respeitar a diversidade”, garante.

Apesar de ser querida pelos alunos, Geanne explica que, diariamente, precisa lutar para provar sua capacidade. “Não importa se passei em primeiro lugar ou em centésimo no concurso. Se uma pessoa cis precisa ser dez para provar que merece estar onde está, eu preciso ser 11 todos os dias. Isso precisa acabar, e, definitivamente, não será o Escola Sem Partido que vai melhorar essa realidade. Pelo contrário. O preconceito pelo desconhecimento só vai aumentar”.

De acordo com Viveiros, o projeto representa um retrocesso. “Discutir o Escola Sem Partido é falar sobre um passado medonho que voltou à tona. Ainda hoje, transexuais são perseguidos o tempo todo. Vai acontecer o mesmo com os professores, caso esse projeto seja aprovado. Eles deixarão as salas de aula”, diz. “O mesmo acontece com essa ideia de os pais interferirem na educação escolar. Essa influência é inconstitucional e ilegitima o processo de educar”.

Fonte: Universa UOL

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