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Jovens desafiam covid-19 na periferia de São Paulo com rolê e beijo na boca


A bola rola na praça João Candido, no Jardim Sipramar, Grajaú, zona sul
Imagem: Cleber Souza/UOL

Nas periferias de São Paulo, a reunião entre amigos na porta de casa, as manobras de skate, o passeio de bicicleta e o futebol do fim de tarde acontecem normalmente, como se o coronavírus não estivesse circulando.

A exposição de jovens ao risco covid-19 é frequente, das primeiras horas do dia até o fim de tarde. Mesmo sabendo dos perigos, adolescentes escolhem desafiar a pandemia.

A reportagem do UOL esteve nas zonas sul e leste da capital paulista para entender por que a juventude nessas regiões muitas vezes tem ignorado o coronavírus. A quebra do isolamento, o medo de possíveis abordagens da PM (Polícia Militar) e a saúde são comentados entre os grupos de amigos, mas pouco levados em consideração.

O uso de máscara, que agora é obrigatório em todo estado, não é unanimidade na hora de sair e encontrar amigos, praticar esportes ou paquerar. Aglomerações ocorrem, inclusive para fazer festa.

Pipa no ar, copo na mão e beijo na boca

Na praça do Jardim Myrna, na zona sul, famosa por “pancadões” na região do Grajaú, a presença de jovens ocorre desde as primeiras horas até o fim do dia. Uns batendo papo, outros bebendo e até na pegação. Nem com a presença da PM em alguns momentos é possível dispersar a galera.

O passeio para colocar os assuntos em dia é costume entre amigas. A criançada corre contra o vento para colocar a pipa no ar. Bicicletas são divididas por jovens, que competem para ver quem as consegue empinar por mais tempo.

Jardson Henrique, 23, está desempregado e, segundo ele, sem motivos para ficar em casa.

“Se eu tivesse emprego ou alguma coisa boa para fazer eu estaria em casa. Mas tô aqui bebendo com pessoas que eu conheço, que se cuidam. Ouvir uma música com amigos, sair do estresse e da rotina é bom, mesmo sabendo que podemos nos contaminar, mas o jovem não é grupo risco”.

Já Douglas Silva, 19, e Nathalia Jesus, 17, curtiam um momento íntimo. Entre abraços e beijos, o casal comenta que a saudade fez com que eles marcassem um primeiro encontro após um mês de distância.

“Não é só a gente. Tem casais aqui todos os dias. Se você namora é óbvio que você vai ver seu namorado. O ruim é sair beijando qualquer pessoa neste momento. A polícia não vai querer impedir até da gente namorar, eles têm de ir atrás de quem comete crime”.

Sem aula desde fevereiro, Caio Martins, 17, diz que se reúne com seus amigos diariamente para soltar pipa. Ele conta que não tem medo do coronavírus.

“Que nada, esse vírus só é perigoso para quem não tem a saúde boa. Eu gosto de soltar pipa, não to correndo risco nenhum. Não tô em aglomeração”, comentou o jovem ao UOL.

“Rolê” de moto no fim de semana

A reportagem registrou aglomerações entre os jovens no Grajaú, Jardim Angela e Capão Redondo.

Rachas de motocicletas têm acontecido com frequência. Os jovens, em sua maioria, estão “engarupados”, com sorriso no rosto e bebida na mão. Muitos sem máscara e poucos com capacete — portanto, sujeitos a multa.

Segundo a PM, o efetivo atua em todo o estado com a operação “Paz e Proteção”, realizada nos finais de semana para coibir a aglomeração de pessoas para a formação de pancadões e impedir práticas delituosas. No mês de abril, houve prisão e apreensão de 26 suspeitos e 1.780 autuações de trânsito.

Pingue-pongue no parque para passar o tempo 

Jogando pingue-pongue em uma mesa no Parque Linear do Cantinho do Céu, zona sul, Gessé Martins, 24, se coloca em uma situação complicada, pois está desempregado e sem lazer em sua própria casa.

Ele estava trabalhando até o começo da pandemia. Assumindo o risco, questiona o excesso de informação sobre o coronavírus e cita outros problemas comuns.

“Tem outras coisas rolando ainda. A dengue ainda existe? A bala perdida contra o pobre da periferia é real? Não se morre só de corona. Até o uso da máscara é questionável, se colocada da maneira incorreta. Agora me diz como vou ficar em casa? É fácil para um playboy que tem sua mesada, ficar em casa com seu videogame, sua piscina. Eu tenho de dividir uma televisão com cinco irmãos”.

“Depois que um vizinho morreu, nunca mais saí” 

Os irmãos gêmeos Guilherme e Gustavo Tavares, 16, moradores da Vila Jacuí, zona leste de São Paulo, afirmam que só tiveram noção do perigo do coronavírus quando um vizinho morreu após ter sido infectado.

Eles tinham uma rotina de curso técnico, escola e igreja antes de a pandemia impor quarentena. “No começo, a gente ficava jogando bola na frente de casa, não tinha nada pra fazer, ficar em casa é chato demais. Depois que o vizinho morreu, nunca mais saí sem máscara”, diz Guilherme.

Rafael Gomes, 18, desempregado, costuma passar o dia sentado na esquina da rua em que mora, em São Miguel Paulista, zona leste. Ele diz que outros dois amigos vão sempre até ele, conversar para passar o tempo.

“Nossas mães não gostam muito, mas elas brincam que é até melhor a gente aqui fora, porque lá dentro elas não aguentam mais a gente”, diz. Na rua em que ele vive, os garotos costumavam jogar bola à noite, com chinelos como traves. Agora, não há mais.

“Esse lazer parou, não teve jeito. O que a gente faz agora é o seguinte: sentamos a uma distância que a gente acha seguro e usamos o álcool em gel. Do mais, é rezar pra tudo dar certo”.

Durante exercício, recomenda-se até 20 m de distância

Médico infectologista do Hospital Emílio Ribas, Jean Gorinchteyn explica que, quando se fala em isolamento social, há diferentes distâncias que devem ser respeitadas, dependendo se a pessoa está parada, caminhando ou correndo.

“Falamos de 1,5 metro ou 2 metros para a pessoa parada. Para a pessoa caminhando, é de 4 a 5 metros. Quando a pessoa está correndo, o isolamento é de 15 até 20 metros”, diz. A distância que Rafael tem dos amigos costuma ser menor do que 1,5 metro e meio.

Em um momento de descontração com sua mãe Eliana Soares, 50, seus dois irmãos e um sobrinho, Nilton Soares, 18, estudante do ensino médio EJA (Ensino de Jovens e Adultos), relatou ao UOL como tem sido sua rotina em dias de pandemia.

“Eles querem diminuir a propagação do vírus, mas esquecem que muitos jovens da periferia trabalham para sustentar suas famílias. O correto é manter-se em casa. Eu, por exemplo, moro aqui em frente, tem uma praça em frente à minha casa. Mas e os que não têm um parque assim para se distrair e sair dessa rotina louca?”, questionou Nilton.

Já para sua mãe, é preferível que seu filho esteja reunido na frente de casa, do que em lugares que ela não saiba ou dentro de casa em aglomeração com pessoas que não estejam se cuidando, mesmo sabendo que o coronavírus é um perigo.

“Ele fica aqui mas eu fico de lá da varanda olhando. Se sair eu vou atrás. Eles ficam entediados em casa. Não tem internet em casa. Usamos o wi-fi das lotações [transporte coletivo] aqui, se elas vão embora a gente perde a o sinal. É ruim você controlar um jovem que tem suas vontades, a gente tem que saber passamos por essa fase”.

Fonte: UOL Notícias

 

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