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A invenção do sexo seguro
A AIDS é uma epidemia fundamentalmente ligada a ideias sobre o sexo. Foram as visões e valores sobre o sexo e a sexualidade que, desde os primeiros momentos, influenciaram a resposta à epidemia e têm conduzido o estigma, o preconceito e a discriminação em relação às pessoas que vivem com HIV e AIDS. Estes fatores também têm influenciado a resistência e a mobilização das comunidades afetadas. Por outro lado, a arte de cuidar e a construção da solidariedade destacam-se no contexto da primeira década da epidemia, assim como a invenção do sexo seguro (ou,do sexo mais seguro) marca a primeira resposta à AIDS nascida das comunidades mais profundamente impactadas.
A noção de que o sexo seguro deveria ser “inventado” pode soar estranho, embora esteja de acordo com as ideias de analistas precoces como Cindy Patton, Paula Treichler ou Herbert Daniel. Estes pesquisadores já tinham a noção de que tudo sobre a epidemia deveria ser inventado. E isto exigiu a criação de novos quadros culturais para conceituar a experiência e transformar as práticas a partir desta experiência (Patton, 1991; Treichler, 1999; Daniel, 1989). O mais impressionante sobre esta invenção de sexo seguro – que em muitos aspectos envolveu uma reinvenção da sexualidade de forma mais ampla – foram os pressupostos naturalistas sobre sexo e sexualidade, ou seja, a convicção de que o sexo e a sexualidade são de alguma forma fundamentados na natureza (Corrêa et al., 2008). A própria epidemia desmascara o grau profundo de diversidade sexual (em diferentes comunidades e grupos populacionais, tais como cross-cultural e cross-nacional) e a plasticidade em relação às práticas sexuais. É comum prevalecer a ideia de que o sexo seguro foi inventado na comunidade gay dos EUA no início dos anos 1980. Este é um dos mitos de origem chave relacionados ao sexo seguro e ficou registrado no panfleto lançado em 1983, cujo título é “Como fazer sexo em uma epidemia”. O material foi elaborado por ativistas como Michael Callen e Richard Berkowitz e o médico Joseph Sonnabend ( Patton, 1996; Berkowitz, 2003) e registrado no filme “Sexo Positivo” ( 2008), de Daryl Wein . Este material pode ser considerado como o ponto de partida para o que viria a ser chamado de sexo seguro ou sexo mais seguro. Pesquisadores como Richard Parker, no entanto, afirmam que o sexo seguro foi inventado e reinventado diversas vezes em várias comunidades afetadas ao redor do planeta.
A invenção do sexo seguro ou do sexo mais seguro foi inquestionável em muitas comunidades gays em diferentes cidades dos EUA no início dos anos 1980 (Brier, 2009). Mesmo antes do HIV ter sido isolado, muitos homens gays já percebiam que algum tipo de infecção sexualmente transmissível deveria ser responsável pela explosão de mortes entre eles. E muitos começaram a usar camisinhas como uma forma de evitar o risco de infecção através de relações sexuais. Mas o sexo seguro também foi inventado de forma independente por gays e outros homens que fazem sexo com homens no Brasil em 1982 e 1983 (Parker, 1987), assim como também foi inventado por mulheres e homens heterossexuais em países da África Subsaariana afetados pela epidemia em meados da década de 1980 (KALEEBA e Ray, 2003). Não só o uso do preservativo, mas várias outras estratégias de redução de danos (tais como o sexo não-penetrante, que prioriza o sexo oral em oposição ao sexo anal ou vaginal outomar decisões sobre as posições e práticas baseadas no estado sorológico – que mais tarde seria chamado como ” posicionamento estratégico”, etc) e outras formas de “segurança negociada” começaram a ser exploradas como maneiras de reinventar suas práticas sexuais em resposta ao risco percebido (Kippax et al., 1993, 1997; Parsons et al., 2005).
Mas inventar ou reinventar a prática sexual exigiu falar e refletir sobre sexo e sexualidade de uma forma que raramente havia acontecido antes da AIDS. Foi necessário mudar não apenas os comportamentos sexuais, mas os significados sexuais – o significado associado com atos e identidades. Era necessário quebrar tabus, quebrar silêncios, e dar voz às experiências sexuais que tinham sido envoltas no silêncio. A invenção do sexo seguro ou do sexo mais seguro era sobre a inovação discursiva e sobre a mudança comportamental.
o O mais impressionante sobre a invenção do sexo seguro na primeira década da epidemia foi ter sido realizado não por especialistas, mas por leigos, por membros das comunidades mais afetados pela epidemia. Uma das tristes verdades é que o trabalho notável que foi feito por estas comunidades foi amplamente ignorado e até mesmo minado uma vez que os especialistas científicos e profissionais de saúde pública começaram a se envolver na resposta à epidemia. Como Cindy Patton analisou no livro “O Conselho Fatal”, a educação de sexo seguro deu errado (1996) como a AIDS, A educação e a prevenção começaram a ser tomadas por instituições oficiais, por especialistas científicos. Com isso, o controle na resposta à epidemia foi retirada das mãos das comunidades mais afetadas. Estas, cada vez mais, perderam a capacidade de falar de forma significativa para as pessoas que mais precisavam. Est a é uma das principais lições que precisa ser lembrada nestes primeiros anos da epidemia da AIDS. É preciso lembrar também que o o sexo seguro é uma invenção e que a rapidez com que esta invenção conquistou o seu lugar na resposta à epidemia bem como a capacidade das comunidades afetadas em falar abertamente sobre sexo e sexualidade foram cruciais na capacidade destas comunidades na prevenção em relação ao vírus.
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Lavar os brinquedos
Os brinquedos podem ser lavados em uma solução de uma parte de cloro para cada 10 partes de água. Por exemplo um copo de cloro adicionado a 10 copos de água.
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Sexo oral e risco de infecção
Não existe nenhum caso descrito na literatura científica em todo o mundo que tenha demonstrado a saliva como um fluido capaz de transmitir o HIV.
- O HIV é o agente causador da AIDS, que é o estado mais avançado da infecção. A AIDS se estabelece quando o HIV já destruiu o sistema imunológico (de defesa) da pessoa portadora do vírus.
- São considerados fluidos corporais NÃO infectantes: saliva, urina, lágrimas, fezes e suor. A saliva, urina e lágrimas não contém a quantidade de HIV suficiente para infectar outra pessoa, independentemente da forma que a pessoa entre em contato com esses fluidos. Logo, não são capazes de transmitir o HIV.
- Há muitas evidências que apoiam essa condição. No caso da saliva, há inúmeras ocorrências que acontecem na boca que a transformam num lugar inabitável para o vírus: ácidos, enzimas, fricção, ar, dentre outros fatores. Além disso, a saliva é rica em proteínas que inibem a infecção pelo HIV. Portanto, a saliva NÃO é um fluido capaz de transmitir o vírus da AIDS.
- São considerados fluidos corporais infectantes: o sangue, o sêmen, as secreções vaginais e o leite materno (de uma mãe infectada pelo HIV que pode transmitir o vírus ao amamentar o bebê).
- Esclarecemos que, para que ocorra a infecção pelo HIV, devem existir necessariamente três condições:
- Que o vírus esteja presente, ou seja, uma pessoa deve estar infectada com o HIV;
- Que haja quantidade suficiente do HIV no fluido que está servindo como veículo de infecção. Ou seja, a concentração de vírus determina se a infecção vai ou não ser efetiva. Por exemplo, hoje já sabemos que uma pessoa com carga viral indetectável, e, portanto, com pouca concentração de vírus no sangue, não tem possibilidade de transmitir o vírus à outra pessoa (Indetectável= Intransmissível);
- O vírus deve penetrar na corrente sanguínea. Entrar em contato com um fluido que contenha HIV (infectado) não é suficiente para provocar a infecção. Além de entrar em contato, o vírus deve alcançar a corrente sanguínea em quantidades suficientes;
- Ressaltamos que a maior concentração de HIV está no sangue, seguido pelo sêmen e pelos fluidos vaginais;
- Informamos a seguir as formas de transmissão do HIV, ou seja, as situações que permitem que o HIV chegue à corrente sanguínea:
- Relações sexuais sem proteção (sexo vaginal e/ou anal sem o uso de camisinha).
Obs: Não há casos documentados de infecção pelo HIV quando houve somente exposição ao fluido vaginal ou ao pré-sêmen. Reforçamos que saliva é um veículo (líquido) inabitável para o HIV porque as enzimas contidas na saliva destroem o vírus e também a mucosa oral é mais espessa que a do ânus ou da vagina. Receber sexo oral não coloca NINGUÉM em risco porque quem recebe se expõe somente à saliva do/a parceiro/a portadora ou não do HIV; - Contato direto com sangue infectado (seringas com agulhas infectadas como no caso de usuários de drogas injetáveis, transfusões de sangue e alguns produtos derivados do sangue, ou por acidente ocupacional, por exemplo, os profissionais de saúde);
- Por meio da mãe infectada para o/a filho/a: via transmissão vertical antes, durante, ou depois do parto este último através do leite materno;
- Relações sexuais sem proteção (sexo vaginal e/ou anal sem o uso de camisinha).
- Ainda sobre a saliva, salientamos que o artigo 131º do Código Penal, de 1940 e ainda em vigor, tipifica o crime de perigo de contágio por moléstia grave. Contudo, a lei ressalta que para que haja crime, é necessário que “o ato seja capaz de produzir o contágio”. Quando se trata de um ato envolvendo a saliva, seja na forma de um cuspe ou de um beijo, é pacífico o entendimento que estamos diante de “crime impossível”, uma vez que o fluido “supostamente” utilizado (a saliva) não é capaz de produzir o contágio por HIV.
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Barreira de látex (protetor bucal)
A principal forma de se proteger na prática da cunilíngua (sexo oral em mulheres) é por meio do uso da camisinha feminina. Diferente da masculina, que se restringe a cobrir o pênis, a camisinha feminina possui uma “sobra” de material. Assim, é capaz de proteger não só a vagina, mas também a vulva, oferecendo uma barreira entre a boca e a região.
Para quem se incomoda com o gosto ou textura do lubrificante, uma possibilidade é lavar o preservativo com água antes de ser colocado para remover o excesso de lubrificante. Mas lembre-se, na hora da penetração utilize lubrificante.
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Nunca usar duas camisinhas ao mesmo tempo
Quando são utilizadas duas camisinhas ocorre fricção entre elas durante a prática do sexo, o que aumenta a chance que uma delas ou as duas estourem.
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Fist fucking, ou simplesmente, fisting ou fist
Fisting vem de do inglês, “fist”, que quer dizer pulso. O verbo (que é uma gíria) pode ser traduzido como a prática de enfiar a mão ou antebraço na vagina ou no ânus da parceira (o) até o pulso. Lá dentro, rola uma “exploração” manual da vagina, reto e do “trato digestivo”, com a proposta de buscar prazer absoluto.
A mão entra em forma de cunha e deve ir fechando em forma de punho conforme for penetrando, e coloca-se o dedão para dentro dos outros dedos. Quando toda a mão estiver dentro da vagina ou do ânus, a pessoa que faz a penetração pode abri-la e fechá-la suavemente, para dar prazer a outra pessoa. Durante todo este processo, é fundamental que haja uma boa comunicação entre os parceiros para evitar a dor, e tudo deve ser feito com calma e muita suavidade.
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Como preparar uma solução com cloro para lavar os brinquedos sexuais
Para preparar uma solução a base de cloro utilize uma parte de cloro para cada 10 partes de água. Por exemplo um copo de cloro adicionado a 10 copos de água.
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Prevenção Combinada
A prevenção combinada não se limita à combinação dos diferentes métodos biomédicos para se proteger da infecção pelo HIV. É por definição uma estratégia que utiliza várias abordagens na prevenção de infecção pelo HIV na área estrutural, comportamental e biomédica nos diferentes níveis (individual, comunitário e social).
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Antirretrovirais
Os antirretrovirais (ARV) são os medicamentos usados para o tratamento de infecções por retrovírus, principalmente o HIV. A terapia altamente eficaz com antirretrovirais é conhecida como TARV.
Os primeiros ARVs surgiram na década dos anos 1980 e começaram a ser distribuídos no Brasil gratuitamente em 1996. Inibem a reprodução do vírus, o que permite retardar a progressão da doença causada pelo HIV e não desenvolver AIDS.
Atualmente existem várias classes de ARVs que atuam nos diferentes momentos da replicação viral. -
O que significa ser soropositivo(a)?
Ser soropositivo/a ao HIV significa ter entrado em contato com o vírus e ficar infectado por este.
Ser soropositivo/a para o HIV não significa ter AIDS.
Ter AIDS é o resultado do enfraquecimento e destruição progressiva pelo HIV do sistema imunológico, principalmente os linfócitos T4 ou CD4+ o que facilita o desenvolvimento de infecções chamadas de oportunistas e de certos tipos de câncer.
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Estratégias pouco divulgadas (silenciadas)
Além da utilização das diferentes formas de se proteger da infecção pelo HIV com a utilização e combinação de vários métodos – como a camisinha, a profilaxia pré-exposição (PrEP), a profilaxia pós-exposição (PEP) e o tratamento como prevenção (TcP) – existem formas e estratégias que permitem reduzir em maior ou menor grau a exposição (contato) com o vírus.
Essas outras formas criadas como estratégias pelas comunidades para reduzir os danos e se protegerem da infecção não são divulgadas ou são pouco comentadas pela comunidade científica, silenciando os grupos mais afetados na sua tentativa de divulgação.
São poucos os programas nacionais que nas estratégias de prevenção ao HIV incorporam e/ou divulgam essas outras formas e estratégias de prevenção.
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O que significa ser soroconcordantes?
Soroconcordantes significa que os/as parceiros (as) terem o mesmo resultado de teste anti-HIV seja negativo ou positivo.
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Testes rápidos.
Os testes rápidos para a detecção da infecção pelo HIV são exames que oferecem um resultado em, no máximo, 30 minutos. São de fácil execução e não necessitam de estrutura laboratorial.
Os testes que o Ministério da Saúde oferece para a triagem e/ou o diagnóstico de HIV são:
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Período de janela ou Janela imunológica
A janela imunológica é o período, ou tempo, que o nosso sistema de defesa leva, quando entra em contato com um micro-organismo infeccioso, para produzir anticorpos que possam ser detectados por exames de sangue.
Quando suspeitamos que houve a possibilidade de infecção pelo HIV em situações como, por exemplo, transar sem camisinha e não utilizar outro método que nos proteja da infecção, precisamos esperar no mínimo 30 dias para realizar o teste e assim evitar ter um resultado falso negativo.
Atualmente existem testes que são capazes de detectar se houve a infecção em um período mais cedo, mas no Brasil a orientação ainda é aguardar um período de até 30 dias para realizar o teste. -
Anticorpos
Os anticorpos (Ac) são proteínas produzidas pelos linfócitos B (células de nosso sistema de defesa) em resposta à presença de um antígeno (Ag) (vírus, bactérias e/ou fungos) que estão atacando o corpo.
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Infecção Dupla
A infecção dupla ou dual é quando dois vírus infectam uma mesma pessoa. Quando a infecção é produzida por mais de dois vírus é chamada de infecção múltipla.
No caso do HIV a infecção dupla ocorre quando a mesma pessoa está infectada por dois tipos de cepas de HIV diferentes.
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Parceiro receptivo
Toda e qualquer pessoa que é penetrada pela via anal/vaginal. Também conhecido (a) como passivo (a). -
Parceiro insertivo
Toda e qualquer pessoa que penetra por via anal/vaginal. Também conhecido (a) como ativo(a).