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COVID-19 pelo mundo: Jovem brasileira moradora de Nova York conta ao Projeto Diversidade como é viver no epicentro da pandemia


Foto: Arquivo Pessoal

Capital do mundo. Epicentro de uma pandemia. É dessa forma que Nova York vem entrando para a história durante o surto de COVID-19. Atualmente, a localidade é de longe o local onde mais se registra casos de adoentados pelo coronavírus no mundo. Os números, assombrosos, dão a dimensão do caos: são 134.436 casos confirmados na cidade de Nova York, 18.108 recuperados e 10.022 óbitos. No estado, as marcações sobem para o total de 242.786 infectados com 13.869 mortos. Isso segundo os números mais recentes disponibilizados até a tarde deste domingo (19/04).

Para frear o avanço do vírus, o governador democrata Andrew Cuomo estendeu o isolamento social até o dia 15 de maio em todo o estado e, além disso, tomou outras significativas atitudes, conforme divulgado no site Departamento de Saúde do estado de Nova York, tais como:

  • Escolas e empresas não essenciais permanecerão fechadas até 15 de maio.
  • O governador Cuomo emitiu ordens executivas 17202.18  exigindo que todas as pessoas em Nova York usassem máscaras ou coberturas para o rosto em público, inclusive ao usar transporte público ou privado ou em veículos de aluguel.
  • O Departamento de Saúde do Estado começará a realizar uma pesquisa estadual de testes de anticorpos na segunda-feira, 20/4.
  • O estado continuará trabalhando com o governo federal para ajudar na cadeia de suprimentos e coordenar laboratórios privados para acelerar os testes de diagnóstico.
  • Uma ordem executiva instrui os empregadores a fornecer gratuitamente aos trabalhadores essenciais máscaras para usar ao interagir com o público.
  • Novas instalações de teste COVID-19 estão sendo abertas no estado, principalmente em comunidades minoritárias.

Espera que essas ações surtem efeitos os mais rapidamente possível. Apesar de neste domingo ter anunciado a imprensa que a pandemia começa a recrudescer, ou seja, entrar em curva descendente Cuomo advertiu que a continuidade da tendência de queda depende das ações adotadas. Que o diga as comunidades de afro-americanos e latinos. Refletindo a desigualdade socioeconômica existente, Nova York também se notabiliza pela discrepância nos índices de casos registrados nessas duas específicas populações em comparação com os brancos, principalmente em dois bairros-chave.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, nas informações mais recentes disponibilizadas, o condado do Queens tem 33.616 casos entre os seus 2,29 milhões de habitantes. O Bronx, outro bairro popular e pobre, com 56,4% de população latina já teve mais de 1 mil pessoas levadas a óbitos e mais de 23 mil moradores infectados.

Morando há exatos 3 anos e 7 meses na cidade, em Astória, justamente um dos bairros do condado do Queens, Marcela Teixeira, de 27 anos, tem sido testemunha ocular da brusca mudança da cidade. O caos instalado sob seus olhos, que enxergam com perplexidade a cidade que nunca para se ver obrigada a parar. E a jovem reúne exatamente as características daqueles mais afetados por COVID-19 em Nova York: jovem, negra e latina.

Em entrevista ao Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) por e-mail a estudante revela o que mudou com a pandemia, os cuidados para evitar se infectar, as preocupações com os familiares no Brasil e uma mensagem para aqueles que ainda duvidam da periculosidade da doença, entre outras coisas.

Confira a entrevista abaixo:

 

1 – Há quanto tempo você mora em Nova York? 

R: Eu moro na cidade de Nova York há exatamente 3 anos e 7 meses.

2 – Em conversas anteriores você já havia mencionado residir no bairro de Astoria, no Queens. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, nas informações mais recentes disponibilizadas, o condado do Queens tem 33.616 casos entre os seus 2,29 milhões de habitantes. Que medidas você tem tomado para não ser mais uma moradora entre as estatísticas da cidade?

R: São muitos detalhes, os quais eu acredito que já se tornaram novos hábitos. Quando é necessário sair de casa eu uso luvas descartáveis, cubro o rosto e me certifico que o vidrinho de álcool em gel está comigo. Não uso sapatos dentro de casa, lavo e passo álcool 70 em todos os produtos que eu compro no mercado e nos meus acessórios: Celular, chave, cartões, TUDO!  Até as roupas limpas que chegam da lavanderia eu só toco 24 horas depois.

3 – Outra informação importante sobre a questão do coronavírus em Nova York, é a forma desproporcional como ela vêm afetando negros e latinos, duas populações da qual você faz parte. De que forma essa situação tem afetado sua saúde mental? O que está sendo mais difícil?

R: Não vejo os meus amigos, não recebo ninguém em casa, não saio para fazer as coisas que eu gosto. A única coisa que eu faço é explorar os metros quadrados do meu apartamento. É um mix de preocupações, ninguém sabe o que vai acontecer no dia seguinte. Nos tornamos reféns das nossas próprias mãos e lutamos contra algo invisível. Dói ver as pessoas perdendo essa luta e optando por escolhas difíceis.

4 – Apesar de imigrante, você tem sua situação regular na cidade e nos EUA. Entretanto, você tem relatos de amigos imigrantes que estão vulneráveis por estarem sem trabalho ou renda para se manter na cidade e que são irregulares?

R: Duas amigas voltaram para os seus países de origem por falta de dinheiro. Não é difícil tomar conhecimento de alguém que esteja nesta situação. NY é o coração dos imigrantes. Muitos trabalham em construções e comércio sem nenhum tipo de contrato, e com a cidade fechada essas pessoas estão sendo diretamente afetadas.

Algumas organizações estão fazendo campanhas de doações, inclusive, alguns restaurantes brasileiros estão doando refeições completas para as pessoas que se encontram em situações difíceis. O Governo também disponibilizou a retirada de alimentos nas escolas públicas e atendimento psicológico online.  De uma forma geral, todos os estão se ajudando como podem.

5 – Sobre isso, aliás. Você foi afetada no que tange a estudo ou trabalho? Caso tenha sido afetada, de que forma o forte isolamento social já alterou seu dia a dia?

R: Eu tenho uma rotina de estudos. As minhas aulas presenciais passaram a ser online, seguindo a agenda do semestre. É confortável e ocupa os meus dias durante a quarentena. Por um outro lado alguns colegas relataram que está sendo uma experiência estressante, especialmente para aqueles que precisam trabalhar de casa e dar atenção aos filhos.

6 – Você esperava que Nova York fosse tão afetada pela pandemia? Em sua opinião, que fatores podem ter contribuído para que o vírus se propagasse com tanta força na cidade em comparação com outras grandes metrópoles americanas e do mundo?

R: Honestamente, sim. Nova York é a capital do mundo, pessoas do mundo inteiro vivem aqui. Pessoas do mundo inteiro visitam Nova York durante o ano inteiro. Sem dúvidas o vírus tinha tudo para se propagar com facilidade.

 7 – Você tem mantido contato com seus familiares no Brasil nesse período ou eles com você? Como avalia a situação por aqui em comparação com os EUA?

R: Especialmente agora, eu tenho mantido contato mais que o normal. Os meus pais e os meus avós pertencem ao grupo de risco. Acredito que tudo seja uma questão de educação e consciência de cada um. Aqui é possível ver algumas pessoas desrespeitando as normas. As cestas de basquete tiveram que ser removidas de todas as quadras porque os jogos estavam acontecendo normalmente. No Brasil não é diferente, e nas redes sociais eu consigo ver que a situação é muito pior. Os bares estão lotados e as festas continuam acontecendo. É decepcionante.

8 – Atual epicentro do COVID-19 no mundo, Nova York se tornou o símbolo de como o vírus é perigoso e vêm exigindo fortes medidas de contenção de sua população. Acompanhando de perto todo esse caos, que mensagem você deixaria para os brasileiros e, principalmente, para os jovens sobre a importância do isolamento social e para aqueles que são céticos em se manter de quarentena?

R: Sejam empáticos e se informem! Estejam sempre informados e sigam todas as recomendações. Cada um sabe de si, cada um sabe a situação em que vive. Quem pode ficar em casa, fica. Quem precisa sair de casa para trabalhar, sai! Mas com cuidado redobrado, atenção em todos os detalhes. Estamos vivendo em um momento em que a principal preocupação é com as nossas vidas. Se cuidem e pensem no próximo. Tudo tem a sua hora e o seu momento, e neste momento precisamos estar juntos.

 

Texto: Jean Pierry Oliveira

 

 

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