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Casa Nem acolhe população LGBTI, em Copacabana, mas teme despejo


Na foto, Duda Correa, Morgana, Cristal, Felipe Gabriel, Luana Paixao, Larubia da Silva . Copacabana, zona sul do Rio. Foto: Ricardo Cassiano/Agencia O Dia

Quem passa pela Rua Dias da Rocha, em Copacabana, e olha de fora o velho prédio de seis andares, já é logo avisado: “Cure o seu preconceito”. Ao adentrar pelo portão, antes de subir as escadarias, o recado é explícito num banner informando que ali não é permitida nenhuma forma de opressão. Estamos na Casa Nem, espaço de acolhimento, passagem e ações voltadas às pessoas LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e pessoas intersex).

Administrada por ativistas trans, a Casa Nem dá acolhimento, apoio e resgate de autoestima para pessoas sujeitas à vulnerabilidade social. Atualmente, 52 pessoas convivem no lugar que abriga os que foram vítimas de violência, rejeição familiar com expulsão de casa, os que perderam seus empregos ou viviam nas ruas. Entre elas, Luana Paixão, de 25 anos.

Depois de sofrer agressão transfóbica, em Niterói, Luana encontrou na casa uma nova família. Há três meses no local, Luana – que é uma mulher trans – não conta com o apoio dos parentes biológicos. “Aqui fui muito bem acolhida. Encontrei pessoas que se importam comigo e não estou mais sozinha”.

A história de Luana, que não era aceita pela família, é parecida com outras tantas da casa. Aos 13 anos, Christal Focatrua, de 21, saiu de casa em Minas Gerais para ir atrás de sonho de integrar um grupo de dança. Identificada com o “gênero fluido” (que se sente homem em determinados dias e mulher em outros), ela diz que vive o momento mais equilibrado da sua vida. “Agora, quero apenas viver livre”.

Há quem passou pela dureza das ruas, como a trans Morgana Talia, de 33, mineira que há um ano chegou ao Rio. “As pessoas passavam por mim e fingiam que não me viam”, contou Morgana, que tem sonhos bem comuns como de qualquer pessoa, independentemente do sexo: “Quero um emprego, uma casa e um amor”.

Os sonhos, porém, não estão tão claros para Duda Correia, de 24, que veio do Ceará morar com uma irmã no Rio – depois da morte dos pais – e acabou sendo expulsa. “Não tenho planos e nem sonhos. Ainda estou assimilando tudo o que aconteceu na minha vida”, contou.

A casa não recebe nenhum apoio institucional, segundo a gestora Larubia da Silva, de 32, e os moradores não pagam por nenhuma atividade. O grupo conta com doações de quem conhece o trabalho. As tarefas são dividias entre todos. Lá, eles têm todas refeições, além de atendimento médico e psicológico feito por voluntários. E foi justamente por falta de condições financeiras para arcar com aluguel que o atendente de telemarketing Felipe Gabriel, de 26, foi morar na casa.

Felipe, bissexual, cresceu em um lar violento. Ele era constantemente agredido na casa da família. Aos 17 anos, saiu da presença dos pais. No ano passado, porém, sua vida começou a desandar. Ele foi vítima de uma agressão homofóbica, perdeu o emprego, terminou um relacionamento e foi despejado. Naquele momento, ele conheceu o espaço. De cara, Felipe pensou que sofreria nova rejeição. Desta vez, por não ser trans. “Quando vim procurar ajuda, sentei na praça aqui perto e fiquei por uma hora tomando coragem. Ao chegar e dizer que queria moradia, fui recebido com abraços”, lembrou, comovido.

Casa resiste em ocupação, mas teme por despejo

A Casa Nem surgiu em 2016 para atender as necessidades de um cursinho pré-vestibular, o ‘Prepara Nem’, voltado às pessoas trans. Segundo Indianara Siqueira, idealizadora do projeto, como muitas das alunas tinham problemas de moradia, as ações precisaram ser expandidas. “Algumas alunas estavam em abrigo em condições precárias e outras sofriam violências das próprias famílias”, lembrou Indianara. A Casa Nem já passou por ocupações na Lapa, Bonsucesso e Vila Isabel. Em Copacabana, os moradores ainda temem novo despejo. Um pedido de reintegração de posse corre na Justiça. Além de acolher um grupo vulnerável socialmente, a Casa Nem promove cursos voltados à geração de renda dos moradores. Segundo Indianara, apesar da função social desempenhada, os órgãos públicos não reconhecem a casa oficialmente. “A Casa é, constantemente, acionada pelos órgãos públicos, como, por exemplo, atender pessoas encaminhadas pela prefeitura. Mas, apesar da parceria que temos com diferentes instituições, não recebemos apoio institucional”, lamentou Indianara. A casa conta apenas com doações.

Festa da visibilidade trans

Em janeiro, mês em que se comemora o Dia Nacional da Visibilidade de Transexuais e Travestis, a Casa Nem terá a sua “Festa da Visibilidade Trans”, marcada para o próximo 24. Na ocasião, haverá a exibição do filme ‘Indianara’, que retrata os atos de resistência da militante. Ainda neste mês, as paredes dos seis andares do casarãoserão colocadas à disposição de grafiteiros como tela parasuas artes. O espaço ainda contará com rodas de conversa e debates sobre racismo, transfobia, masculinidade tóxica e veganismo.

 

Fonte: Waleska Borges – O Dia

Foto: Ricardo Cassiano – O Dia

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